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terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O Porquê do Meu Amor Pelos Animais

Tenho visto mais coerência nos animais – incluindo-se invertebrados e afins – do que em uma única criatura humana. Eles são fieis à sua natureza e à Natureza enquanto Mãe. Você nunca os verá afogados em questões teóricas referentes ao ‘Grande Porquê’ das coisas. Eles apenas vivem e quaisquer revezes, por favor, sejam dirigidos ‘Ao Sr. Mundo Como Ele É’. Respeitam uns aos outros, só matam para comer. Usam o passado como experiência, vivem intensamente o presente e o futuro nem ao menos lhes passa pela cabeça – enquanto que para nós, racionais, o passado é ‘karma’, o presente ‘uma cruz a carregar’ e o futuro ‘a Deus pertence’ (não é uma graça, além de conveniente?).

Passarinhos caem do ninho e morrem. E se saírem do ninho, fazem isso com as próprias asinhas e preparados para enfrentar o mundo e os predadores. Os animais não precisam de estratagemas. Viver ou perecer é questão de mérito e ponto final. Não precisam de um deus, apesar de prestarem louvores à Grande Mãe Natureza simplesmente ao não destruí-la por estarem vivos. Sobreviver sem ter capacidade para isso não faz parte do seu dicionário (por sinal, eles não precisam de dicionário). Vivem sem medicina, cirurgia, dinheiro, ideologias ou esmolas políticas, e isso lhes basta. São todos campeões – os perdedores não estão mais por aqui.

Já nós, sublimes seres da criação, burlamos o ambiente para que este nos acolha, apesar de não conseguirmos fazer com que ele nos respeite. Veja as mudanças climáticas, apavorando a COP15 juntamente com a falta de água e outros ‘pequenos problemas’ criados pelo próprio ser humano. Menos carros e menos pessoas no mundo? Não, céus! Se fizermos isso, o que vai ser dos empregos e da Previdência no futuro? E evitar filhos não é pecado? Questões interessantes e comuns a quem se dá ao luxo de depredar o mundo e só se preocupa com isso porque está à beira da extinção – afinal, se a Terra morrer, morreremos nós.

E justo nós - que nos outorgamos o poder sobre a vida e a morte do planeta devido a nossa autoproclamada sapiência - queimamos as pestanas em Copenhague, onde há clara hesitação dos responsáveis pela situação do clima mundial. É nefando, mas engraçado mesmo assim. Quem menos merece viver, pois mata a si mesmo e ao resto do mundo, é quem se dá ao luxo de solfejar. Entretanto, cuidado! A Natureza é irônica e vingativa. Enquanto jogamos conversa fora lá em Copenhague, o planeta já arregaçou suas mangas e nos prepara uma grande surpresa – e eu não acho que essa surpresa virá embalada como presentinho de Natal.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

País de Palhaços e Vexames

A política internacional do atual governo deixa a nós brasileiros com uma nada sublime sensação de vexação. Enquanto nosso presidente, agora usando figurino à la Evo Morales, desfila seu palanque eleitoral mundo afora, nós brasileiros passamos carão como povo atrasado, inerte e sem opinião. Apesar da auto-idolatria da cúpula governante dizer o contrário, nunca antes fomos mais medíocres enquanto nação do que agora. Para entrar para o rol mundial de nações desenvolvidas, não basta emprestar dinheiro para o FMI e ter uma Petrobrás. Nossa mentalidade tem que evoluir.

Em sendo possível evoluir sob governantes que não evoluem eles próprios – o próprio presidente tem orgulho de mal e porcamente ter um mínimo de estudo – seria necessário que o governo parasse de se engajar nas lutas de governantes de idoneidade suspeita como Manuel Zelaya e similares. Mas, não! Com tantas questões importantes a serem resolvidas dentro e fora do Brasil, nada apaziguará o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, que não seja o retorno triunfal desse que usou nossa embaixada em Honduras para seus próprios fins.

Não bastasse o governo se imiscuir – e a todos nós enquanto nação – em assuntos que não nos dizem respeito, também agora temos que dar guarida a terroristas de outros países – como se já não houvesse bandidos suficientes aqui. Chega a ser hilário políticos como o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) transformarem Cesare Basttisti de terrorista em ‘ativista’ e o fim de sua greve de fome em um “gesto de confiança” para com Lula, que vai bater afinal o martelo sobre seu destino. Palavra alguma, note-se bem, está sendo dita pelo senador acerca das provas contundentes fornecidas pelo governo italiano e que pesam contra a dignidade política desse indivíduo.

E mesmo que o assunto esteja longe de se esgotar nesses parcos exemplos – não haveria espaço suficiente aqui para esmiuçar o montante efetivo do nosso papelão diplomático – vou encerrar com o caso de Paula de Oliveira, que tentou passar a perna no governo suíço. Não fosse o apoio do Itamaraty, tudo não teria passado de mais uma espertinha brasileira que se deu mal por confundir outros países com o Brasil. Mas o governo brasileiro tinha que intervir e nós, povo, tivemos que ouvir de um ultrarradical do Partido do Povo da Suíça (SVP) que “a Suíça não é uma república de bananas”. É, vergonha pouca é bobagem.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Vide Bula

Quem nunca comprou um medicamento na farmácia e leu na caixinha ‘Informações ao paciente, indicações, contra-indicações e precauções: vide bula’? Agora, se alguém jamais se deu ao trabalho de ler a caixinha, com certeza ao abri-la deparou com um papelzinho dobrado, normalmente três vezes no comprimento, ciumentamente impedindo que se pegue o conteúdo interno sem antes passar por ele – é a forma de forçar as pessoas a verem que, sim, há uma bula e ela deve ser lida. A lei, incentivando ainda mais os brasileiros a se informarem sobre o que ingerem, passam ou aplicam, exige que a informação ali seja a mais compreensível possível a leigos. Você lê a bula?

Sempre gostei desse pequeno informativo, não apenas por sua óbvia utilidade ao nos esclarecer, mas também pelo som de sua alcunha: Vide Bula. Tão simpática sonoridade já virou nome de banda de música, roupa de grife, ótica e sabe mais do quê. E deste artigo, claro, entretanto minha escolha pela expressão não proveio desta sua musical característica e nem da intenção de discorrer sobre fármacos. Inspirou-me o que foi escrito no Estadão por Carlos Guilherme Mota, historiador e professor de história da USP e do Mackenzie. O Sr. Mota, assim como eu agora, não se interessou pela questão da química curativa. Ele abordou nossa manquitolante Constituição.

Frei Caneca, em 1823, disse que “Constituição é a ata do pacto social”. Já para mim, ela é a bula social e que – tal qual sua xará farmacêutica – deveria conter definições e instruções simples, claras e diretas e estar persistentemente presente em nossas vidas de forma a que não se pudesse chegar a nada sem passar por ela. Tomar medicamentos sem ler a bula é confiar cegamente no médico – só que ao ler a bula saberemos sobre os efeitos colaterais, já que o médico não tem bola de cristal e não tem como saber se padeceremos deles. Viver em um país sem saber de sua Constituição é confiar cegamente nos políticos, sem questionar os efeitos colaterais de suas decisões.

Só que a bula do nosso país precisa antes passar por uma reforma, protelada e nem sequer mencionada na nova enxurrada de propagandas eleitoreiras que mais uma vez vêm satirizar nossa inteligência (ou ausência dela). O problema com nossa Constituição é que ela, em 1988, foi um avanço e hoje – mesmo remendada do jeito que está – não é suficiente. Pelo contrário. Acontece que a base governista não deseja essa reforma, quer apenas ‘uma revisão'. Infelizmente para nós, pois caminhamos para um caos social - uma alergia ao medicamento, digamos assim. E, ainda pior, nem saberemos o que fazer, pois - desatualizada ou não - não lemos a bula.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A Leila do Pasquim

‘O Pasquim’, para os que não eram nascidos ou são novos demais para se lembrarem, foi um jornal publicado de 1969 a 1991. Ironicamente, aquilo contra o que lutou – a censura imposta pelo AI5 – foi também o que o alimentou, pois não durou muito após o fim da ditadura militar no Brasil. Nele trabalharam nomes de peso como Millôr Fernandes, Paulo Francis, Jaguar, Ziraldo, Henfil, entre outros, vivos ou mortos. Irônico, escrachava costumes com refinada inteligência. Dentre todas as edições ‘subversivas’, foi a que tinha Leila Diniz na capa que fez com que toda a equipe editorial sofresse um ‘surto de gripe’, da qual só se recuperaram três meses depois (na realidade, estiveram presos).

Leila Diniz foi uma atriz que quebrou tabus, escandalizou ao exibir sua gravidez em um biquíni na praia e chocou o país inteiro ao proferir a frase: Transo de manhã, de tarde e de noite. À frente de seu tempo, era ousada e detestava convenções. Foi invejada e criticada pela sociedade machista das décadas de 60 e 70. Era malvista pela direita opressora, difamada pela esquerda ultra-radical e tida como vulgar pelas mulheres da época. Além de ser jovem e bonita, era mulher de atitude. Trabalhou na Rede Globo, que não renovou seu contrato e sobre o fato a novelista Janete Clair comentou que não haveria papel de prostituta na próxima novela. Leila morreu em um desastre de avião em 1972.

Quem chegou até aqui pode estar pensando: “É, as coisas eram assim naquela época”. Ledo engano. Estamos em 2009 e resquícios dessas ignorâncias retrógradas, digamos que justificáveis na época, persistem quando não mais há desculpa. Afinal, imagina-se que a sociedade evolua de alguma maneira, que tabus sejam quebrados e que as pessoas aprendam com os erros. Infelizmente – e apesar das aparências – não é bem assim. O teor erótico de nossos programas de televisão e uma aparente liberdade de imprensa camuflam que “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais” – como diria Belchior.

Dois rápidos exemplos, entre outros. A pedido de Fernando Sarney, filho de José Sarney, o desembargador Dácio Vieira proibiu o jornal ‘O Estado de S. Paulo’ e o portal Estadão de publicarem reportagens que contenham informações da Operação Faktor, que investiga a suspeita de que ele teria feito caixa dois na campanha de Roseana Sarney na disputa pelo governo do Maranhão. Por outro lado, uma aluna da faculdade UNIBAN teve que sair escoltada pela polícia por que seus colegas de classe se revoltaram por ela estar de mini-saia e só não foi expulsa da faculdade pela pressão da imprensa. Incrível como ‘O Pasquim’ e a Leila continuam atuais, não é mesmo?

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

ONGs, CPIs e Outras Pizzas

Confesso que às vezes fico indecisa. Semana passada, por exemplo. Ao ler que o Lula afirmou, diante de uma plateia formada por ilustrados catadores de lixo, que o brasileiro “não precisa de formadores de opinião” (i.e., intermediários se intrometendo na harmoniosa relação governo-povo), não consegui decidir se devia morder com raiva o canto da mesa, chorar amargas lágrimas de desilusão ou – a exemplo do que ocorre em Brasília e outras localidades do Poder Público – convidar uns amigos para comermos pizza e juntos darmos boas gargalhadas dos trouxas e simplórios que ajudam, com seu voto (obrigatório) e falta de informação, a glorificar a corrupção. Excesso de opções, eis o meu dilema.

Lula sempre demonstra má vontade para com quem tenta alertar a população sobre a realidade da atual administração federal. Com prosa intencionalmente populesca, o Sr. Lula da Silva transforma o mais alto cargo executivo deste país em um palanque de campanha onde escabrosos escândalos, seus e de seus aliados, são neutralizados. Quem ouve (mas não verifica) o que diz o digníssimo presidente, pensa que ele e sua trupe são a perfeição personificada. Afinal, em sua mais recente e hipnótica sabatina populista, ele disse: “fizemos mais do que qualquer outro governo do Brasil”. Concordo: mais contratações supérfluas, inusitados ministérios, desvios de verba, escândalos e pizzas.

A administração Lula também é recordista em CPIs italianas (regadas com azeite, com ou sem borda recheada). Maçante seria listar aqui tudo o que o presidente não quer exposto ou relembrado pelos ‘formadores de opinião’, então aos interessados é mais fácil acessar: http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/corrupcao_cronologia. Mas posso desde já fornecer um tira-gosto: Correios, Mensalão, Lulinha e Telemar, etc., além de três impeachments presidenciais devidamente arquivados e outras jóias praticamente esquecidas – ou nem ao menos absorvidas – pela grande massa brasileira.

E agora, como emoções não faltam na República de Bananas na qual se transformou nosso inglório país tupiniquim, temos a CPI das ONGs e – interessantíssimo – eis que ninguém menos do que o MST aparece como beneficiário de mais de 50 milhões de reais dos cofres públicos, portentosa verba aprovada após militantes do movimento terem ido trabalhar para deputados petistas em Brasília. Fernando Rodrigues, na página ‘Poder e Política’ do site da UOL, já matou a charada: “O governo vai controlar a CPI do MST como vem controlando as outras, a CPI da Petrobrás, por exemplo”. É isso aí. O Lula não gosta de opiniões formadas – ele prefere as manipuladas.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Receita do Caos


O estado primordial, primitivo do mundo é o Caos. Era, segundo os poetas, uma matéria que existia desde tempos imemoriais, sob uma forma vaga, indefinível, indescritível, na qual se confundiam os princípios de todos os seres particulares. Nos tempos modernos, Caos significa desordem, falta de regras e leis. Confusão geral. O Brasil poderia ser, nesse quesito, o melhor exemplo de que o Caos não apenas sempre existiu, como jamais será domado e podendo ainda ser aprimorado. Devíamos requerer patente 'Caos Made in Brazil' e vender a receita para outros governos que desejam lucrar com bagunça.

Não é necessário ir muito longe para ver por que decidi abordar tal tema essa semana. Posso resumir em uma palavra minha fonte de inspiração: Rio de Janeiro. Alguns estão dizendo que é intriga da oposição esse desatino acontecer logo após nossa gloriosa vitória para sediar as Olimpíadas nessa cidade. Verdade é que o que os olhos não veem o coração não sente - e o que os estrangeiros não viram no bem elaborado material de propaganda sobre a 'Cidade Maravilhosa', levou-os achar que o paraíso é ali. Mas a realidade sempre se impõe à fantasia e o resultado é vexatório àqueles que venderam gato por lebre.

Não se pode fugir da verdade de nossa situação enquanto país e povo. Não será um carnaval, uma copa do mundo ou qualquer outro circo que se arme junto com uma boa dose de pão que irá modificar a situação em que vivemos. Nós nos iludimos porque queremos e somos incentivados a isso, é a fome com a vontade de comer. Pena que após os festejos sempre chega a segunda-feira e com ela o amargo sabor do sonho que se esvai, dando lugar à melancolia daquilo que não pode ser evitado: a luta árdua do brasileiro para conseguir ser um pouco feliz apesar de tudo.

Existem culpados pelo nosso disabor, mas os principais causadores dessa inglória situação somos nós mesmos, pois quando o governo entra com a farinha, a gente entra com os ovos. Fingimos que não podemos fazer nada contra o descaso, a ardilosidade, a ganância e a falta de moral de nossos políticos e demais funcionários da máquina executiva, legislativa e judiciária. E eles, em troca, nos dão umas migalhas para comer e um showzinho para nos divertirmos. O resultado não poderia ser diferente. No entanto, apesar de 'O Estado de São Paulo' continuar proibido de publicar qualquer coisa sobre o Sarney, não dá para fazer o mesmo com os jornais do mundo em relação ao Rio. A receita brasileira não cozinha muito bem lá fora.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A Última Fronteira Humana


George Orwell, ou melhor, Eric Arthur Blair (seu verdadeiro nome) foi um escritor cuja marca registrada era sua aversão contra toda forma de autoritarismo. Em seu livro '1984' – escrito em 1949 – ele descreve uma sociedade oligárquica coletivista que reprime qualquer um que a ela se oponha. O ‘Grande Irmão’ (isso mesmo, Big Brother) mantém vigilância sobre todos, vinte e quatro horas por dia. O personagem principal, Winston Smith, é o encarregado da propaganda do partido, forjando documentos, notícias e modificando até mesmo a História para que esta coincida com os interesses do governo. Ou seja, apaga a memória do povo, já habituado – treinado – a esquecer.

A ideia de Orwell, longe de ser fantasia, é um fato histórico acontecido não apenas na política. Na Idade Média, a Igreja Católica queimou livros que iam contra seus dogmas e destruiu objetos de arte pagãos. Combateu ainda a tradição oral arraigada na população, celebrando santos e festivais católicos nos mesmos dias e épocas cultuados por outras religiões locais. Um caso clássico de como a manobra funciona é a Festa Junina. Ninguém mais sabe, mas 24 de junho é o solstício de verão europeu, dia em que os celtas celebravam a fertilidade em volta de uma fogueira (exatamente, só que não havia casamento, pois não era uma tradição desse povo). Lavagem cerebral pura - e quem não esquecesse, era queimado junto com os livros e demais artigos queimáveis.

A queima ou proibição de livros e a opressão à liberdade de expressão são usuais ferramentas do totalitarismo. Foram esses estratagemas usados por Stálin, Hitler e outros representantes de ditaduras (de esquerda ou direita), bem como por todas as religiões que impõem seus dogmas. Com os avanços nos meios de comunicação, rádios, canais de TV, jornais, revistas e outdoors começaram a ser ‘recrutados’ a serviço de ‘verdades únicas e irrefutáveis’, pois não basta proibir que as pessoas se expressem, é necessário controlar o que elas pensam. Pode-se impedir um ser humano de agir e falar, mas não se pode obrigá-lo a não pensar. Ou se pode?

O pensamento é o último território a ser conquistado por tiranos. Controlar a mente de uma pessoa é tirar-lhe a autonomia, a análise, a contestação. Nesta época de estímulos sensoriais imediatos, é fácil transformar seres pensantes em comportadas marionetes. Junte-se a isso a tendência mundial à inércia mental, à credulidade irrestrita e ao consumismo desenfreado. Preguiça de usar os neurônios, seguir cegamente um líder para não se responsabilizar pelos próprios atos e acostumar-se a usar e jogar fora são características desejáveis quando não se quer um ser íntegro, mas um dócil e obediente bichinho de estimação – em outras palavras, quando se quer conquistar a última fronteira humana.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Quando Silêncio é Culpa

Sim, eu sei. O silêncio é de ouro, a palavra é de prata. O velho ditado funciona bem em diversas situações humanas. Durante uma discussão familiar, por exemplo, quando estender o assunto durante o acesso de raiva irá minar as bases de um relacionamento – e, como dizem os antigos, vaso quebrado mesmo colado não aguenta mais água e flor. No ambiente profissional também, principalmente em dia de dor de cabeça, contas a pagar (pior se for dia de pagamento e o salário não der) ou diante de um projeto ingrato com prazo já vencendo. Calar, por vezes, é obrigação moral.

Por outro lado, quanto menos uma pessoa fala, mais ela ouve e observa. Quanto mais ouvirmos e observarmos, mais chances teremos de perceber diferentes aspectos de uma situação ou de apreender detalhes sutis, mas importantes, do mundo a nossa volta. Também existe a tendência de gostarmos do som de nossa própria voz, como se naquele único momento de onipotência face à plateia (ou um exclusivo par de orelhas), compensássemos toda uma vida de anonimato em meio à multidão. Afinal, ao falar, expressamos nossas ideias e ideais ou simplesmente jogamos conversa fora para quebrar o silêncio, mas somos o centro das atenções – e quem não gosta de atenção?

Calar, sim, pode ser sinal de sabedoria. Talvez não concordemos ou saibamos que iremos gerar controvérsia e desequilíbrio quando isso não se faz absolutamente necessário. Calar pode igualmente demonstrar nosso apreço por quem fala, nossa empatia ou até mesmo simpatia para com essa pessoa. Nesse último caso, queremos apenas ouvir sem que nosso ego interfira, entender o que é dito, deixando o outro se expressar como bem entender sem emitirmos opiniões que interromperiam um afluxo de sentimentos que precisam ser desabafados. Elegância pura é saber ouvir uma opinião contrária e ao mesmo tempo ponderar as próprias opiniões face ao que é dito.

Infelizmente, existem situações na vida onde não falar é criminoso – ou prova cabal de um crime que jamais será admitido. Veja nosso prolixo (falante) governo federal. Gastam, seus principais representantes, palavras e mais palavras, todas obviamente enaltecendo suas melhores façanhas – a rigor uma meia dúzia delas, sempre a mesma meia dúzia criativamente expressa de maneira a parecer que são mais de seis. Belas propagandas de TV, ninguém há de negar. Mas tais representantes do povo não proclamam publicamente as suas incompetências, seus desatinos, seus salários e mordomias indecentes. Não prestam conta dos impostos que cobram, nem espalham aos sete ventos suas verdadeiras intenções. Nesse último e execrável caso, calar é hipocrisia pura - nada, além disso.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A Temida Evolução Não-Presencial

Na revista eletrônica ‘Justiç@’, o estudante de direito Vitor Eduardo Tavares de Oliveira termina seu artigo sobre a constitucionalidade da videoconferência em audiências criminais da seguinte forma: “É certo que a Lei veio com a melhor das intenções no sentido de legalizar tal procedimento... Ainda assim, o uso da videoconferência não é necessário, devendo ser evitado.” Não irei me imiscuir em intrincadas questões legais – as quais, por sinal, não domino – nem entrarei no mérito da afirmação final de Vitor. A questão para mim é: Por que achar que uma videoconferência é menos eficaz em seus resultados práticos?

A tecnologia pode ser um simples lazer – sendo computadores, celulares e demais eletrônicos os nossos brinquedos modernos – mas sua maior contribuição foi para o trabalho e sustento de várias pessoas. No entanto, todo o potencial desse avanço profissional é limitado pela medrosa tradição de que, para um relacionamento ser bom, ‘deve haver química, uma coisa de pele’. Concordo que nas relações pessoais é fundamental haver presença física, porém seria o mesmo aplicável às demais interrelações humanas? O patrão precisa estar literalmente no seu cangote para que você faça um bom relatório contábil? Um juiz tem que, obrigatoriamente, respirar o mesmo ar que o réu ao analisar as alegações deste?

Em uma época em que os grandes centros padecem com poluição e congestionamentos, estranha é a relutância em se trocar a necessidade de locomoção pela comodidade do trabalho à distância. Vários serviços e profissões, graças à tecnologia e à banda larga, podem muito bem ser exercidos por pessoas em suas próprias residências. Estudantes também agradeceriam ficar uma horinha a mais na cama antes da primeira aula, quando então se conectariam à Internet e mostrariam, através de uma webcam, seus sonolentos olhos ao professor e aos colegas. Os presos ficariam nas prisões durante as audiências, não onerando a sociedade com os custos de uma arriscada baldeação pelas ruas.

Em países do Primeiro Mundo, já é normal certas funções nas empresas serem exercidas não-presencialmente e cursos à distância são muito procurados por baratearem o custo do ensino. Eu mesma trabalho para pessoas que se encontram na China, Índia, Europa, Argentina e Estados Unidos – e temos um relacionamento profissional muito bom e eficiente, apesar de plenamente eletrônico. Talvez seja hora de, no Brasil, reavaliarmos conceitos caducos e apostarmos na qualidade de vida que a tecnologia pode trazer, usando-a em seu pleno potencial, para que todos os equipamentos à disposição não tenham tão somente a utilidade de um trenzinho elétrico.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A Cauda e a Cabeça do Dragão


Paul Krugman, economista e articulista do The New York Times, esta semana publicou um artigo sobre a mudança no clima terrestre causada pelo ser humano. Um entre tantos outros artigos que passam despercebidos – quando deveriam ocupar diariamente todas as primeiras capas de revistas, manchetes de jornais e minutos de noticiário – ‘Cassandras do Clima’ encerra em si a problemática da questão. Cassandra, na mitologia grega, é uma profetiza que, amaldiçoada por Apolo, não consegue fazer com que as pessoas acreditem em suas previsões. Da mesma forma, os atuais modelos climáticos lançam dados científicos sobre a questão e alertam para desastres iminentes, mas ninguém leva o assunto com a seriedade merecida.

Segundo Krugman – e eu concordo plenamente com ele – “parte do problema é que é difícil manter o foco das pessoas” (pois estão mais preocupadas com suas pequenas vaidades diárias, acrescento) e que “responder à mudança climática com a energia que a ameaça merece... embaralharia as cartas da economia, ferindo alguns interesses poderosos estabelecidos”. Em decorrência de tamanha incongruência humana, políticos, legisladores, chefes de Estado, a mídia e outros detentores de poder não tomam providências rigorosas de controle ambiental e nem exigem, com o vigor necessário, que a população se adapte como se faz premente. Incompetência geral, pura e simplesmente.

Na Natureza não existe espaço para a incompetência, pois esta é prontamente destruída em prol da harmonia, pertinência e equilíbrio. Os aptos sobreviverão e terão a seu dispor todo o necessário para sua permanência e reprodução. E não há como ir-se contra as leis naturais uma vez que elas são a base da vida aqui no planeta. Tais leis, regentes da vida, existiram antes de tudo o que aqui se encontra e persistirão depois de todos os seres vivos encontrarem sua extinção. Esse é um fato sobre o qual não há apelação, emendas ou reformas constitucionais e qualquer ser, animal ou vegetal, que não prostrar-se em obediência à esta Magna Carta Primordial estará condenado à morte.

A incompetência humana está no paradoxo de o ser humano possuir raciocínio, ser capaz de ver e analisar todo um conjunto de informações, mas manter-se centrado no próprio umbigo à revelia da sobrevivência do mundo em que vive. Ao invés de sermos a caput draconis da criação, somos a cauda draconis do mundo natural, os instintos baixos governando a razão. O resultado é que o mais primitivo ser natural é menos nocivo à Terra do que mais elevado representante de nossa espécie. E apesar de nossa auto-idolatria dizer o contrário, não haverá glória naquilo que somos a menos que salvemos o planeta de nós mesmos. Se não o fizermos, o planeta dará cabo de nós, pois essa é a Lei da Vida - acima da qual ninguém está.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A Boneca Russa Brasileira

A atual crise diplomática entre Brasil e Honduras fez minha mente retornar a uma ocasião em que tive a oportunidade de adquirir uma boneca russa há alguns anos atrás. Quem a vendia era uma senhora refugiada daquele país – que na época ainda era o centro da extinta União Soviética. Não sou consumista, mas até hoje não sei o que me levou a não adquirir uma das peças. O preço era bem módico e o conceito interessantíssimo. Fato é que não o fiz e agora lastimo profundamente. Adoraria tê-la na minha frente enquanto escrevo isso.

Uma boneca russa nada mais é do que uma colorida peça de madeira oca semelhante a um pino de boliche, só que é mais baixinha e gordinha. O desenho imita o rosto alegre e a roupa rústica de uma mulher do povo. Essa simpática figura se encontra dividida em duas metades, mas o encaixe é perfeito, então o fato só é notado quando se puxa para cima aquela que seria a cabeça, separando-a do gorducho quadril. E, surpresa! Dentro da boneca existe uma outra idêntica e, dentro desta, uma outra. E uma outra. E outra. Até que deparamos com a mini-bonequinha maciça que habitava como um feto a barriga de todas as suas irmãs gêmeas.

Lembro-me com especial remorso da boneca russa que não comprei por ter sido esta diferente. Por fora, uma boneca russa comum, colorida, rostinho rosado e feliz. Porém, ao abrir a primeira da sequência, você se deparava com ninguém menos do que Gorbatchov (o da abertura política russa), dentro deste estava Brejnev (o ‘anti-Stálin’ de fachada), seguido por Stálin (o do terror descarado), dentro do qual se aninhava Lênin (o da revolução) e, fechando a sequência, a embrionária figurinha de Karl Marx (aquele que confundiu seres humanos com formigas, quando então concebeu a doutrina comunista).

Fosse eu uma artesã, conceberia uma boneca russa brasileira, inspirada em nossa atual política diplomática. Por fora, um pino de boliche (mais baixinho e gordinho) pintado na forma de uma passista de escola de samba, dentro da qual haveria um Hugo Chávez de bochechas rosadas, aninhado neste um Manuel Zelaya, dentro do qual se esconderia um rechonchudo Cesare Battisti, que estaria escondendo em suas entranhas de madeira uma jovem Dilma Rousseff e, por fim, no âmago de toda essa questão, um Karl Marx brasileiro, mais sorridente e com a barba um pouco mais rente do que o original russo.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Algemas e Cabrestos, Angras e Reis

Perdoem-me os cegamente otimistas, os fãs de carteirinha, as torcidas organizadas, os pueris e as Marias que vão com as outras. Não acho que o Brasil é um país em desenvolvimento. Não vejo um futuro brilhante para nós, da mesma forma que não acredito em Papai Noel. Depois da tempestade não virá a bonança, pois nós, apenas e placidamente, aguardamos no enganador olho da tempestade – a calmaria nos faz sentar tranquilos quando deveríamos sair correndo enquanto é tempo. E aqueles que gostariam de me apedrejar por tais palavras devem aguardar que termine eu de me expressar.

Comecemos pelas bases, por nossas escolas públicas. Estão sindicalizadas ao ponto de não ser possível afastar um incompetente do cargo de professor. Se essa mínima e premente alteração não se faz possível, quem dirá o resto. Um cidadão mal-formado não tem plena ciência da situação a sua volta e um dia tomará decisões coerentes com suas (parcas) potencialidades – inclusive através do voto obrigatório (atual democracia brasileira). O cidadão é a base da sociedade que, por seu turno, é a base do país. Um cidadão mal-preparado é inerte, não sabe o que faz, o que pensa, o que quer. O que nos leva ao que vem a seguir.

Para haver mudanças, é necessário que os detentores do poder (representantes do povo) tenham honestidade (para com os bens públicos), visão (para com as necessidades públicas) e boa vontade (para trabalhar em prol do público, o qual representam). Entretanto, tais governantes foram, em sua maioria, eleitos por pessoas que mal sabem o que fazem e o que acontece – e tais governantes sabem disso, navegando em cargos públicos segundo suas próprias conveniências e impunemente ditando regras para suas próprias condutas e direitos. Para eles, o povo não passa de gado: que seja controlável, dê lucro e o mínimo de trabalho possível. Sugando o dinheiro público e não trabalhando como deveriam, nos lançam ao parágrafo escrito anteriormente e assim recomeça o ciclo.

Os resultados estão aí e quem não é cego que veja. Os impostos excessivos e mal-direcionados, as indecentes regalias políticas, o mau uso dos recursos humanos e físicos, as incoerências administrativas e a impunidade generalizada há muito teriam explodido na forma de violenta revolta popular em outros países – os desenvolvidos, conquanto desenvolvimento não significa necessariamente dinheiro, mas postura e autoconsciência. Mas eis que estamos agindo como se a coisa toda fosse (e estivesse sendo) bem feita. E assim agiremos ad infinitum (do latim, literalmente ‘até o infinito’, mas prefiro a versão ‘para todo sempre’). A boiada bem-comportada, já antes detentora de uma usina nuclear, é agora a feliz possuidora do pré-sal. Acredite se quiser.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Ética, Ora Ética!

No dicionário, Ética é a filosofia que estuda valores morais e princípios ideais da conduta humana. Ética, enquanto conceito, é de difícil compreensão, hermética, só ensinada e aprendida em Universidades. Entretanto, podemos aplicá-la no dia a dia, exigindo-a de nós mesmos, das pessoas à volta e – por consequência – de governantes e outros detentores de poder. Catedrática ou não, a Ética se resume em não se fazer certas coisas, não interessando a situação, opinião ou oportunidade que você por ventura tenha. Democrática, pode ser aplicada por criminosos, usurpadores, donas-de-casa, donos-de-comércio, publicitários, políticos (em ascensão ou não). Não é necessário um diploma ou grau universitário para se ter Ética.

Eticamente falando, o problema não é o Lobo Mau desejar comer a Chapeuzinho Vermelho, mas colocar as roupas da Vovozinha para conseguir seu intento. Inimigos, desafetos e opiniões diferentes todos temos, mas usar de deslealdade (trapaça) e subterfúgios legais (trapaça legalizada) é falta de Ética. O conceito de Ética se alça acima do bem e do mal, acima do certo e do errado, pois a Ética não toma partido de nada e de ninguém, diferentemente do que acham os fanáticos e os usuais donos-da-verdade. A Ética é a nobreza da alma, é a consciência que extrapola a si mesma. É ter – acima do que se acredita, do que se tem por certo ou do que se acha certo – respeito pelo outro, mesmo sendo ele um adversário.

Ética é não difamar inimigos, apesar de tê-los. Não é ético atacar pelas costas, forjar situações, contar mentiras. Não é ético dizer que quem fez foi o outro quando, na realidade, quem fez fomos nós. Amenizar nossas falhas e enaltecer a falha alheia não é ético. Não ter ética é tomar atitudes na berlinda se houver impunidade. É tramar. É saber que o alvo do desafeto pouca ou nenhuma chance terá para se defender. Falta de ética é covardia. É esconder-se nas falhas da lei. É desculpar-se publicamente mas, ainda assim, persistir nos lucros que a infame ação tenha trazido. Enfim, não ter ética é despencar do degrau da humanidade cônscia e derribar-se na mais infame animalidade egocêntrica.

A Ética está acima da lei, pois naturalmente a suplanta. Existem falhas na lei – qualquer lei – mas nunca recairá em erro quem é ético. Ética é dignidade, o que por vezes a lei não tem e, se a tem, por vezes não a concede. Nobres e bem-intencionados ideais tiveram que dar passagem à Ética e, se não o fizeram, viram seus nobres e bem-intencionados propósitos (acaso presentes) caírem por terra (ou no quinto dos infernos, consulte Dante). É ético o cidadão comum ser obrigado a pagar impostos que financiem algo em que não acredita (MST e outras parcialidades em Brasília, por exemplo)? É ético forjar documentos? Difamar? É ético enaltecer as qualidades do seu peixe tendo antes envenenado o lago do seu vizinho?

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Semeando o Vento

Questão de uma semana atrás, tive – obrigada Deus pelos pequenos favores – uma agradável surpresa. Estava trabalhando em uma tradução quando, de repente, acabou a luz. Ao ligar para a CPFL, fui prontamente atendida por uma voz eletrônica que confirmou meu endereço (não sei como, mas assim foi), informando-me que não só estavam cientes do inconveniente como também o lamentavam, e que o serviço seria reativado assim que possível. Todo o processo não durou mais de 30 segundos. A energia também não demorou a voltar. Impressionante, não? Também achei.

Isso comprova que, quando existe boa vontade nesse país, não há como as coisas não funcionarem. E bem. Somos talentosos em tudo o que nos propomos a fazer e, se incentivados, extrapolamos expectativas, não raro deixando enfática e boa impressão em outros povos. Bom exemplo está em nossos atletas, quando têm condições de arcarem, eles mesmos, com seus treinamentos. Outra jóia está em nosso cinema, nos diretores Walter Salles, Fernando Meirelles, José Padilha e no maravilhoso elenco de Tropa de Elite – aclamadíssimo mundo afora. O BOPE é igualmente alvo de elogios, enquanto polícia especializada.

Nossos cientistas também não ficam atrás, demonstrando sagacidade temperada com engenhosidade, fazendo com que os poucos projetos que conseguem verbas no Brasil deixem muitos na comunidade científica internacional de queixo caído. Digna também de nota é a criatividade dos pequenos, médios e grandes empresários brasileiros que sobrevivem, apesar das chuvas de impostos a que estão expostos e de serem frequentemente chamuscados pela melindrosa política vigente em nosso ambiente trabalhista. O povo brasileiro é tudo de bom.

Infelizmente, o exposto acima não perfaz nem 1% do nosso potencial. E, tudo leva a crer, não passaremos disso, pois os 99% restantes não são semeados. O país ainda vira as costas aos futuros atletas (a não ser que joguem futebol ou já sejam famosos) e as escolas públicas estão um lixo - aqui não se pratica mens sana in corpore sano. O cinema encontra-se na mão da Globo Filmes (e, futuramente – não vai demorar – da Record Filmes), cujos protagonistas serão, algum dia, todos ex-BBB ou ex-Fazenda. Campos de pesquisa científica serão invadidos, de novo, pelo contingente cada vez maior do MST. E a Petrobrás não passará de um cabide de emprego e verbas para ex-sindicalistas, os novos ricos brasileiros. Já imaginou o tamanho da tempestade?