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terça-feira, 19 de maio de 2009

Eu Reciclo, Tu Reciclas... Eles NÃO Reciclam!

Há uns doze anos atrás, uma amiga estava para receber uma boa quantia de herança e me pediu sugestões para aplicar seu dinheiro. Cogitava ela em ter um negócio rentável. Não tive dúvidas, dizendo a ela que investisse em uma planta de reciclagem. Justificando-me ante seu olhar espantando, apontei-lhe que existem pelo menos três coisas certas sobre a humanidade: vamos sempre precisar de água, precisar comer e, entre um e outro, produziremos toneladas de lixo por dia. Em outras palavras, uma inesgotável fonte de matéria-prima a preço de banana – isso quando se tem que pagar para recolhê-la. Não sei se ela seguiu meu conselho, pois algum tempo depois nossas vidas seguiram rumos distintos. Entretanto, passados esses doze anos, acredito que se não o fez, se arrependeu.

Olhando com atenção o lixo diário que produzimos em nossas casas, veremos uma pequena quantidade vinda de restos alimentares – cascas de legumes e frutas e raspas de panela, basicamente – e despojos sanitários, vulgo papel higiênico, cotonetes, algodão. A imensa parcela são embalagens – de produtos alimentícios, de limpeza, de higiene pessoal – sendo que, destas, 80% são de plástico, o grande vilão que se recusa a biodegradar-se, vindo logo a seguir o mais comum protetor de nossos eletro-eletrônicos e carnes de balcão, o isopor. Até aí, nada de atemorizante, pois todas essas embalagens são recicláveis, certo? Sim e não. Elas são, sim, recicláveis, mas a maioria não é reciclada. A maioria é colhida pelo lixeiro juntamente com o lixo comum, e isso não porque são embalagens maldosas que querem nos prejudicar. Elas não se arrastam sozinhas na calada da noite para se misturar a papéis higiênicos usados e ao resto do feijão que azedou.

Mas triste mesmo é a estória dos recicláveis que são separados minuciosamente por homens e mulheres de boa-vontade. Esses são vítimas de catadores informais, os carroceiros. Como fazem do lixo seu ganha-pão, muitos levam os sacos deixados para a coleta seletiva até algum lugar discreto e se livram dos ‘materiais leves’, pois os tais não dão dinheiro. Pegam para si alumínio, vidro, pilhas de jornais e revistas, deixando para trás – nos terrenos baldios, onde foram fazer sua própria coleta seletiva – justamente plásticos e isopores. Para completar essa tragédia, quando enfim algum lixo reciclável consegue chegar a seu destino, é muitas vezes dispensado por não compensar sua reciclagem: caso das sacolinhas de plástico, que vêm às toneladas do mercado, e da embalagem Tetra Pak, aquela do leite longa-vida e do molho de tomate.

Apesar desse quadro desalentador, continuo separando recicláveis. E venho tomando atitudes preventivas. Sacolinha de mercado nunca mais: levo uma de pano ou pego caixa de papelão. Outra: lixo meu é responsabilidade minha. Não ponho recicláveis na rua, não confio em carroceiros e nem na prefeitura de minha cidade com seu ‘Projeto de Reciclagem' (soube, por boa fonte, que eles dispensam boa parte dos recicláveis que recolhem). Pesquisei lugares sérios em reciclagem e, uma vez por semana, coloco meus recicláveis no carro e os levo até eles. E fico de olho quando tenho visitas de pernoite em casa – até hoje ninguém me perguntou, tendo em mãos uma embalagem vazia de shampoo ou de snacks de frango, ‘Onde você põe seu lixo reciclável?’. Portanto, com toda a delicadeza que se espera de uma anfitriã, aguardo os visitantes se acomodarem para então anunciar: ‘Nesta casa reciclamos lixo’ e saio mostrando, em um verdadeiro tour ecológico, em que lata de lixo vai o quê.