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quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A Temida Evolução Não-Presencial

Na revista eletrônica ‘Justiç@’, o estudante de direito Vitor Eduardo Tavares de Oliveira termina seu artigo sobre a constitucionalidade da videoconferência em audiências criminais da seguinte forma: “É certo que a Lei veio com a melhor das intenções no sentido de legalizar tal procedimento... Ainda assim, o uso da videoconferência não é necessário, devendo ser evitado.” Não irei me imiscuir em intrincadas questões legais – as quais, por sinal, não domino – nem entrarei no mérito da afirmação final de Vitor. A questão para mim é: Por que achar que uma videoconferência é menos eficaz em seus resultados práticos?

A tecnologia pode ser um simples lazer – sendo computadores, celulares e demais eletrônicos os nossos brinquedos modernos – mas sua maior contribuição foi para o trabalho e sustento de várias pessoas. No entanto, todo o potencial desse avanço profissional é limitado pela medrosa tradição de que, para um relacionamento ser bom, ‘deve haver química, uma coisa de pele’. Concordo que nas relações pessoais é fundamental haver presença física, porém seria o mesmo aplicável às demais interrelações humanas? O patrão precisa estar literalmente no seu cangote para que você faça um bom relatório contábil? Um juiz tem que, obrigatoriamente, respirar o mesmo ar que o réu ao analisar as alegações deste?

Em uma época em que os grandes centros padecem com poluição e congestionamentos, estranha é a relutância em se trocar a necessidade de locomoção pela comodidade do trabalho à distância. Vários serviços e profissões, graças à tecnologia e à banda larga, podem muito bem ser exercidos por pessoas em suas próprias residências. Estudantes também agradeceriam ficar uma horinha a mais na cama antes da primeira aula, quando então se conectariam à Internet e mostrariam, através de uma webcam, seus sonolentos olhos ao professor e aos colegas. Os presos ficariam nas prisões durante as audiências, não onerando a sociedade com os custos de uma arriscada baldeação pelas ruas.

Em países do Primeiro Mundo, já é normal certas funções nas empresas serem exercidas não-presencialmente e cursos à distância são muito procurados por baratearem o custo do ensino. Eu mesma trabalho para pessoas que se encontram na China, Índia, Europa, Argentina e Estados Unidos – e temos um relacionamento profissional muito bom e eficiente, apesar de plenamente eletrônico. Talvez seja hora de, no Brasil, reavaliarmos conceitos caducos e apostarmos na qualidade de vida que a tecnologia pode trazer, usando-a em seu pleno potencial, para que todos os equipamentos à disposição não tenham tão somente a utilidade de um trenzinho elétrico.