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segunda-feira, 20 de julho de 2009

Estamos importando... lixo?

Deixe-me ver se essa minha pobre cabeça cansada de guerra consegue assimilar os fatos. Estamos recebendo lixo da Inglaterra desde fevereiro, mas isso foi descoberto em julho, confere? Esse lixo deveria ser composto de polímeros de etileno – plástico reciclável – mas é lixo comum recheado de produtos extremamente contaminantes tais como seringas, preservativos, fraldas e bolsas com sangue. Ou altamente tóxicos, como baterias de celular e óleo hidrocarboneto, que afeta a biodiversidade (que leva anos para se recuperar). Procede? Indignado, o ministro da Secretaria Especial de Portos, Pedro Brito, disse que vai devolver o lixo (impressionante!) e o Reino Unido se diz ‘disposto’ a reimportá-lo (magnanimidade, adoro isso!). Deixei algo, dentre os fatos básicos, de fora? Acho que apenas os mentores e testas-de-ferro dessa pantomima, mas chegarei lá.

Vamos à minha fase preferida: a análise. Em primeiro lugar, já não produzimos lixo o suficiente, seja ele reciclável ou não? Somos capengas em nossa coleta seletiva, porém seria isso (ou qualquer outro deslize tupiniquim) justificativa para que um país de Primeiro Mundo envie seus despojos para cá? Por outro lado, onde está nossa Aduana, tão rápida nos aeroportos para fisgar eletrônicos? São seis meses de lixo. Estiveram os fiscais em hibernação todo esse tempo? E o Ibama, que põe na cadeia uma pessoa por causa de um papagaio que cria em casa ou porque tirou o couro de um jacaré atropelado na estrada (aconteceu sim, acredite), por que vai se satisfazer em apenas ‘multar’ os responsáveis brasileiros?

Temos agora que esperar a boa vontade do Reino Unido, que diz que a transferência de volta pode durar semanas. Pergunto: a inusitada burocracia britânica é porque o lixo está aqui e não lá? Segundo um porta-voz britânico, ‘o Reino Unido decidiu ser líder mundial no combate ao comércio ilegal de resíduos, a fim de proteger o meio ambiente e a saúde humana’. Se assim funciona a fiscalização dos ‘líderes mundiais de combate aos resíduos ilegais’, Deus tenha piedade de todos nós. Os contêineres saíram dos portos ingleses de Tilbury e Felixtone. Somos tupiniquins, por tradição e carteirinha, e eles lá são o quê? Talvez, depois desse episódio de incompetência cá e acolá, devêssemos arrumar também uma alcunha depreciativa aos Súditos de Sua Majestade.

As empresas britânicas Worldwide Biorecyclabes e UK Multiplas Recycling, que despacharam a carga, serão investigadas. Já não deviam ter sido? Outros envolvidos, até agora, igualmente se escondem por detrás de siglas e pomposos nomes de empresas: Bes, MSC Mediterranean Shipping do Brasil Ltda., MaersK Brasil Brasmar, Fox Cargo. Nomes de indivíduos, até agora não vi. Sejam quem forem, são maquiavélicos. Aparentemente, as incríveis remessas têm chegado a Gana e ao Brasil. O que o Brasil e um país da África teriam em comum, além da frouxidão aduaneira e o subdesenvolvimento? Tenho certeza que, quem quer que seja o ignóbil autor da façanha, deve ter feito lá suas pesquisas. E acertou na mosca, porque que o lixo chegou aos alvos, são e salvo. E vai saber desde quando – realmente.