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sábado, 30 de maio de 2009

O Indulto e o Natal sem Papai Noel

Já aconteceu antes. Um preso, com uma ficha criminal de mais de 4 metros se esticada, recebe o indulto de Natal em dezembro de 2008. Como muitos antes e depois dele, não retornou à cadeia. Esta semana, ao roubar um carro onde estavam um pai e seus dois filhos pequenos, disparou contra o motorista na frente das duas crianças, arrastando depois o corpo para fora do veículo e arrancando com o carro, levando consigo os dois inocentes. Após ameaçá-los, deixa-os na rua e parte levando o fruto do furto. Um exemplo entre milhares de outros que têm em comum o fato de um bandido preso ser solto mediante benefício da lei de indulto. Ele teve um Feliz Natal, as crianças vão ter um Natal de órfãos.

“Os cidadãos não poderiam dormir tranquilos se soubessem como são feitas as salsichas e as leis” – disse Otto von Bismarck, ex-chanceler alemão. A isso eu acrescentaria que não durmo tranquila pois muitas perguntas não querem calar. A mais perturbadora para mim é por que a lei brasileira gosta tanto de bandidos. O cidadão de bem, aquele que trabalha e luta contra as dificuldades enraizadas em nosso país, possui um só direito: pagar quatro meses de seu suor em impostos e calar-se em atordoado mutismo. Pergunto-me qual a raiz dessa inversão de valores, onde o crime compensa mais do que a honestidade, e as respostas que me ocorrem não são nada confortáveis.

De um lado, intelectuais com tendências de esquerda que solfejam, em escritórios e salas com ar condicionado, acerca da injustiça social como moto gerador da má índole, enquanto cospem seus chavões ‘humanistas’ sobre a ‘arbitrariedade’ da força policial como resquício da ditadura militar. Do outro, legisladores que possuem interesse em deixar a lei tão elástica quanto possível, afinal muitos são advogados com um grande filão criminal entre sua clientela. Isso sem mencionar, é claro, políticos que lucram com a fraqueza legal brasileira, seja por cometerem delitos ou por cultivarem associações ilícitas com a cúpula marginalia. O resultado: os Direitos Humanos não pertencem a humanos direitos.

Vivi em um lugar muito humilde durante uma fase inglória de minha vida. Não chegava a ser uma Rocinha ou um Buraco Quente, mas tinha lá suas similaridades. O que tirei dessa experiência – e de outras, como estar constantemente no terminal Parque D. Pedro às seis horas da manhã de um rigoroso inverno, vendo centenas de trabalhadores enlatados em um ônibus logo cedo – é que a lei é feita e ensinada pelas pessoas erradas. Perdidas em teorias vãs e sem contato com a realidade, ou simplesmente imersas em seus próprios e escusos interesses, esses professores, sociólogos, juristas, políticos, e quem mais seja, não enxergam – ou não querem enxergar – que a pobreza cria muito mais heróis do que bandidos. Tristemente, a lei brasileira afaga a esses poucos fracos, entregando a grande maioria, digna, à sua própria sorte.

terça-feira, 26 de maio de 2009

A Estupidez do Animal Humano

Albert Einstein disse o seguinte: “Existem duas coisas infinitas: o Universo e a tolice dos homens, mas não tenho certeza em relação ao Universo”. Gostaria de poder discordar do brilhante cientista, mas mesmo que fosse eu páreo à tamanha inteligência, como poderia? Do pequeno ao grande, nas importantes ou irrisórias questões, dentro e fora de nós mesmos, dia após dia comprovamos com nossas atitudes e posturas a veracidade dessa afirmação. E o mais impressionante é que nos autoproclamamos únicos seres racionais do planeta. Se assim é, onde está nossa razão, incapaz de comprovar a si mesma?

Duas atitudes – distintas em magnitude e natureza, porém semelhantes por serem totalmente desnecessárias – exemplificariam nossa triste condição. De um lado, Susana Vieira, claramente desequilibrada, humilhando Geovanna Tominaga e saindo humilhada pela dignidade da outra. Do outro lado, a Coreia do Norte e seus testes nucleares, aterrorizando o mundo e cutucando ânimos exaltados. O que uma coisa tem a ver com a outra? A seguinte pergunta: por que nos é difícil viver em paz e harmonia uns com os outros? Lastimo ver que existe algo em comum no fato de uma atriz de sucesso se rebaixar e um país lançar mão de um recurso destrutivo como forma de poder: ego.

Sempre achei que o ego é a forma homo sapiens de autopreservação. Infelizmente, se o instinto de autopreservação eleva outros animais à condição de mais fortes entre si, em nosso caso só nos enfraquece perante a nós mesmos e aos outros. Um animal sabe recuar, nosso ego não nos deixa fazer o mesmo. Levamos à última instância nossa primazia, nem que isso signifique ‘nem para mim, nem para ninguém’. Nosso ego, quando irracionalmente se inflama, nos faz perder o senso de perspectiva, de conjunto, de conveniência, de sobrevivência. Susana Vieira se encondeu atrás de sua veterana carreira, Pyongyang atrás de suas ambições atômicas. Mas apesar da carga pesada da qual ambos lançam mão para se impor, estão a apenas encobrir suas respectivas fraquezas.

Demonstrações inúteis de poder. A força não vem de fora para dentro, através de subterfúgios. A verdadeira força – e a única que nos resta enquanto seres pensantes – está no bom uso da razão e do discernimento para dominarmos instintos primários, impulsos animalescos, de competição e domínio. Comecei com uma citação de Einstein e terminarei com outra: “Gandhi encarna o maior gênio político de nossa civilização. Definiu o sentido concreto de uma política e soube encontrar em cada homem um inesgotável heroísmo quando descobre um objetivo e um valor para sua ação. A Índia, hoje livre, prova a justeza de seu testemunho. Ora, o poder material do Império Britânico, em aparência invencível, foi submergido por uma vontade inspirada por idéias simples e claras”. Amém!

sábado, 23 de maio de 2009

Entre a Asinha do Frango e a Asa do Avião

Falou-se e falou-se, comemorou-se a vitória na forma de penas, calou-se a derrota de nossas aeronaves. Interessante como jornalistas, únicos habilitados pela lei brasileira a emitir opiniões nos meios de comunicação, em nenhum momento do último dia 19 tenham feito notar (à pequena parcela da população sintonizada no noticiário) a triste situação de celeiro do mundo que, tudo indica, manteremos. Atualmente, nossos carros-chefes no comércio Brasil-China são soja e ferro. Agora o frango. Nossos afamados aviões vão ficar a ver navios se depender de nosso ‘parceiro comercial’. O mesmo ‘parceiro’ que não pensou duas vezes em injetar 41 bilhões na Petrobras, outra fornecedora de matéria-prima (e cuja CPI anda deixando o Lula irritado...).

E nosso atual governo, campeão do marketing e marketeiros, eis que conjuga sua visita avícola à China comunista no exato dia em que Sadia e Perdigão anunciam sua fusão, com direito a estampar sua nova marca, a Brasil Foods, em todas as primeiras páginas da Internet e na camisa do Coringão, atual campeão do paulistão e, para o Lula, time do coração! – rimou, né? E por que não, se isso tudo foi feito com premeditada intenção?

Falou-se e falou-se, mas não se perguntou por que nossos industrializados e nossa tecnologia não seriam do interesse chinês. E ninguém cobrou do governo Lula – que anunciou medidas severas quando da demissão de 4.000 funcionários da Embraer – para que usasse dessa mesma energia para cobrar a quebra da intenção chinesa para a compra das aeronaves dessa mesma empresa. São 45 aviões modelo 190 da Embraer, compra anunciada em 2006 pelos chineses, mas cancelada em novembro passado. Dois pesos e duas medidas? Ou hábito arraigado em sermos nada além da imensa quitanda, a sempre prover horti e fruti a países cuja indústria avança inexorável para o bem de suas respectivas populações?

Se não houver imediata reversão de país agrário e servil para industrializado e tecnologicamente desenvolvido, para que universidades e cursos técnicos no Brasil, se o que iremos precisar mesmo será de uma população rural obediente, pobre mas contente em alimentar o resto do mundo e alimentar-se do caro refugo de baixa qualidade que sobrar? À China, esse ‘tigre asiático’ – alcunha perfeita, pois se trata de um predador – só interessa comprar matéria-prima. E para quem ainda não sabe, toda a tecnologia que a China faz questão de desenvolver e vender, já mostra seus frutos na crescente especialização de seu sistema de ensino de alta qualidade. Lamento desfazer os sonhos de nosso (ingênuo?) presidente: “Os dois países (Brasil e China) vão escrever uma nova história da humanidade neste século”. Não, presidente. A China vai escrever a história, nós vamos nos limitar (como sempre) a manter a população e a indústria chinesas bem-alimentadas.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Eu Reciclo, Tu Reciclas... Eles NÃO Reciclam!

Há uns doze anos atrás, uma amiga estava para receber uma boa quantia de herança e me pediu sugestões para aplicar seu dinheiro. Cogitava ela em ter um negócio rentável. Não tive dúvidas, dizendo a ela que investisse em uma planta de reciclagem. Justificando-me ante seu olhar espantando, apontei-lhe que existem pelo menos três coisas certas sobre a humanidade: vamos sempre precisar de água, precisar comer e, entre um e outro, produziremos toneladas de lixo por dia. Em outras palavras, uma inesgotável fonte de matéria-prima a preço de banana – isso quando se tem que pagar para recolhê-la. Não sei se ela seguiu meu conselho, pois algum tempo depois nossas vidas seguiram rumos distintos. Entretanto, passados esses doze anos, acredito que se não o fez, se arrependeu.

Olhando com atenção o lixo diário que produzimos em nossas casas, veremos uma pequena quantidade vinda de restos alimentares – cascas de legumes e frutas e raspas de panela, basicamente – e despojos sanitários, vulgo papel higiênico, cotonetes, algodão. A imensa parcela são embalagens – de produtos alimentícios, de limpeza, de higiene pessoal – sendo que, destas, 80% são de plástico, o grande vilão que se recusa a biodegradar-se, vindo logo a seguir o mais comum protetor de nossos eletro-eletrônicos e carnes de balcão, o isopor. Até aí, nada de atemorizante, pois todas essas embalagens são recicláveis, certo? Sim e não. Elas são, sim, recicláveis, mas a maioria não é reciclada. A maioria é colhida pelo lixeiro juntamente com o lixo comum, e isso não porque são embalagens maldosas que querem nos prejudicar. Elas não se arrastam sozinhas na calada da noite para se misturar a papéis higiênicos usados e ao resto do feijão que azedou.

Mas triste mesmo é a estória dos recicláveis que são separados minuciosamente por homens e mulheres de boa-vontade. Esses são vítimas de catadores informais, os carroceiros. Como fazem do lixo seu ganha-pão, muitos levam os sacos deixados para a coleta seletiva até algum lugar discreto e se livram dos ‘materiais leves’, pois os tais não dão dinheiro. Pegam para si alumínio, vidro, pilhas de jornais e revistas, deixando para trás – nos terrenos baldios, onde foram fazer sua própria coleta seletiva – justamente plásticos e isopores. Para completar essa tragédia, quando enfim algum lixo reciclável consegue chegar a seu destino, é muitas vezes dispensado por não compensar sua reciclagem: caso das sacolinhas de plástico, que vêm às toneladas do mercado, e da embalagem Tetra Pak, aquela do leite longa-vida e do molho de tomate.

Apesar desse quadro desalentador, continuo separando recicláveis. E venho tomando atitudes preventivas. Sacolinha de mercado nunca mais: levo uma de pano ou pego caixa de papelão. Outra: lixo meu é responsabilidade minha. Não ponho recicláveis na rua, não confio em carroceiros e nem na prefeitura de minha cidade com seu ‘Projeto de Reciclagem' (soube, por boa fonte, que eles dispensam boa parte dos recicláveis que recolhem). Pesquisei lugares sérios em reciclagem e, uma vez por semana, coloco meus recicláveis no carro e os levo até eles. E fico de olho quando tenho visitas de pernoite em casa – até hoje ninguém me perguntou, tendo em mãos uma embalagem vazia de shampoo ou de snacks de frango, ‘Onde você põe seu lixo reciclável?’. Portanto, com toda a delicadeza que se espera de uma anfitriã, aguardo os visitantes se acomodarem para então anunciar: ‘Nesta casa reciclamos lixo’ e saio mostrando, em um verdadeiro tour ecológico, em que lata de lixo vai o quê.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

CPI da Petrobras - Qual é o Problema? (Segundo Round!)

Por um lado, artifícios contábeis usados pela Petrobras que reduziram impostos e contribuições no valor de R$ 4,3 bilhões. Do outro, a coisa dá ainda mais o que falar: a investigação recai sobre a Petrobras e a Agência Nacional de Petróleo (ANP) acerca de fraudes nas licitações para reforma de plataformas de exploração de petróleo - como apontados pela operação "Águas Profundas", da Polícia Federal; irregularidades na construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco; denúncias de desvios de dinheiro dos royalties do petróleo e de fraudes envolvendo pagamentos, acordos e indenizações feitas pela ANP a usineiros; e também denúncias de fraudes em licitações promovidas pela estatal e de suspeitas de irregularidades em contratos de plataformas.
Amigos e amigas: CPI já!

CPI da Petrobras – Qual é o Problema?

O Senado está em polvorosa – o PSDB e a base aliada querem uma CPI para saber o por quê de a Petrobras pagar menos impostos. Até aí, nenhum problema, não é verdade?, pois como afirmou em plenário o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), "A Petrobras é uma grande empresa e a Petrobras é importante para o Brasil, mas não vejo como uma CPI pode prejudicá-la. A palavra de ordem de todas as grandes empresas hoje é transparência". Eu concordo. A questão é: por que a base governista – PT, PMDB e associados – estão perdendo as estribeiras (literalmente) para impedir a instauração da CPI?


Que eu saiba, a Petrobras é uma empresa de capital misto, estatal e privado, que há muitos anos está aí. Não pertence ao PT nem a partido algum. A bem da verdade, pertence ao Brasil – esteja sendo esse tal Brasil encabeçado por quem quer que seja. Quando algo do interesse do Brasil, nação, aparenta estar sendo lesado – no caso: será que a Petrobras está sendo usada para conveniências particulares ou políticas de pessoas ligadas ao governo? – por que não investigar a situação sucintamente? Por que impedir a leitura com bate-boca, como fizeram os senadores Mão Santa (PMDB-PI) e Heráclito Fortes (DEM-PI), e abrupta interrupção da seção de ontem à noite, cortesia da senadora Serys Slhessarenko (PT-MT)? Certo é que o sucesso da Petrobras está sendo usado como cabo eleitoral e carro-chefe do PT, mas quem não deve não teme, não é verdade?


Como há pouco me vi presa das malhas irascíveis e inegociáveis de meu imposto de renda, mas sem medo de cair na malha fina do mesmo, acredito que o que vale para a pessoa física vale para a pessoa jurídica. Se posso ser investigada à revelia de meu querer, pelo bem do país (sim, estou sendo irônica, senão sardônica) qualquer empresa – e isso obviamente incluiu a Petrobras – pode e deve ser fiscalizada. Acredito, inclusive, que pela proeminência econômica e por hora política dessa empresa específica, o pente a ser passado tem que ser fino, tão fino que dele quase não se vêem os espaços entre os dentes, de forma a que qualquer caspinha ou piolho fiquem nele presos. Se vai acabar em pizza ou não, vamos ter que esperar. Mas se a CPI for derrubada, meus pêsames a todos nós – há algo de podre no reino da República Federativa do Brasil e, logicamente, na Petrobras.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Perigo: Anjos Arrogantes, Armados... e Protegidos!

Em uma postagem anterior, “Sacrificai-vos no Eterno Crescei e Multiplicai-vos”, eu disse que a sociedade está sendo onerada pela maternidade e paternidade irresponsável. O que torna mais claro esse ônus social é a criminalidade entre os menores da classe favelada (‘da comunidade’, para mim, é outra coisa, sinto por me recusar ao uso do politicamente correto, se é que tal coisa existe). Por outro lado, e isso em todas as classes sociais, os jovens estão cada vez mais cônscios de seus direitos intocáveis e seus elásticos deveres – se é que lhes recai algum. Protegidos pela Lei Brasileira e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, esses menores não pensam duas vezes em se tornarem infratores ou usarem e abusarem de sua cada vez maior agressividade para com os adultos. Há também o uso que bandos de criminosos fazem dos menores para efetuarem suas atividades criminais.

Intocáveis. Uma criança de 12 anos pode matar a tiros um pai de família e sair andando, enquanto a família em luto chora e por vezes passa fome. Uma adolescente pode espancar uma professora em sala de aula e simplesmente ser ‘corrigida’, enquanto os médicos tentam remendar a educadora no hospital. Um adolescente de 17 anos pode estuprar uma jovem universitária de 22 anos, espancá-la e matá-la, contando com a chance de entrar em um ‘programa de recuperação social’. Uma adolescente de 13 anos – nome fictício ‘Alexandra’ - a mando de um traficante, ajudou criminosos a incendiarem o ônibus 350, onde morreram queimadas 5 pessoas semana passada no Rio. Pena que as mortes não foram tão fictícias quanto a alcunha protetora dessa menor. Quer mais? Ligue a televisão ou o rádio, leia uma revista ou jornal, abra a porta de sua casa e saia para trabalhar ou estudar. Ou fique em casa e tenha uma surpresa. Nessas duas últimas situações, boa sorte e que Deus lhe ajude – já que a lei com certeza não vai.

Onde vamos parar, não sei, pois tudo está previsto em lei para a criança e o adolescente, menos as consequências reais de seus atos. Para mim, deveriam existir duas coisas bem distintas: a menoridade legal e a maioridade penal. Isto é, você é menor (pacote de direitos integral) até cometer um crime, quando então irá automaticamente adquirir sua maioridade e encarar a lei criminal. Judiação? Não, há a chance de se pensar duas vezes antes de agir. Inviável? Não, muitos países desenvolvidos já decidiram: atitude de adulto, punições de adulto. Bom exemplo é o menino de 7 anos que, nos Estados Unidos, envenenou toda a família: seria pena de morte, os advogados intervieram, o juiz deu uma pena mais branda: prisão perpétua!

Não há como amenizar um problema em função de um outro. Pais e mães irresponsáveis, por pobreza ou não, não são justificativa para que outros pais e mães e filhos percam suas vidas ou não encontrem na lei um meio que intimide a criminalidade de menores. Que sejam abertas várias frentes ao mesmo tempo, então. Uma para acabar com esse ‘pôr filho no mundo, mas na conta dos outros’. Outra para que todas as escolas sejam de período integral, das 7 da manhã às 5 da tarde – criança na rua, sinal de problema (que tal um 0800 para isso, do tipo ‘disque denúncia, criança sem esperança à vista’?). E por fim, sem ser a última, lei criminal nessa moçada que pensa que o mundo está a seus pés! Pois eu não estou aos pés de criminoso algum, acima ou abaixo de 18 anos. Sou pessoa decente, conheço pessoas decentes e sei que a maioria das pessoas neste país é decente. Só nos faltam leis que valorizem nossa decência e condenem aqueles (de qualquer idade) que optarem por seguir para o lado escuro da vida.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Brasil: Um problema de Memória, Condescendência ou Conveniência?

Perguntas que não querem calar no meu coração: Somos vítimas? Somos algozes? Acomodados? Somos afinal o quê?

Amo meu país. Como bilingue e descendente direta de italianos, poderia há muito ter me mudado para países de língua inglesa ou ter lutado com a burocracia italiana e brasileira (fôlego não me falta) e me tornar digna pessoa de dupla cidadania, tendo na União Européia um imenso teatro cheio de palcos para mim. Acontece que tais estratagemas não constituem parte integrante de meu caráter. Não sou pessoa de abandonar um barco afundando (na próxima encarnação, talvez Deus me faça comandante de um Titanic qualquer, sabe como é Deus...). Não iria para o estrangeiro sugar um bem-estar social e econômico pelo qual não lutei. E nem iria proferir as – na minha opinião, hipócritas – palavras de nossa atual Primeira Dama: “Quero (com a cidadania italiana) um futuro melhor para meus filhos!”

Se nasci com tantos recursos, mas ainda assim brasileira, deve haver um bom motivo – ou então estou marcando a famosa zero hora, vai saber. Enfim, continuo aqui e hoje quero divagar sobre o problema da amnésia crônica brasileira. Não me conformo! Para mim, pisou na bola (ou no tomate, o que na minha atual carestia chega a ser mais trágico) é para todo sempre, amém! Sou ressentida por natureza. Não tem essa estória de fazer hoje e, amanhã, vida nova. Por mim, todo corrupto deveria desaparecer da vida pública, se não por vontade própria, por imposição da sociedade. Todo assassino deveria apodrecer na cadeia (junto com os políticos corruptos) e os crimes de assassinato não deveriam jamais prescrever.

Saiu da televisão, do rádio, da revista e do jornal, então nunca aconteceu! É assim a vida no Brasil. O José Dirceu vem aí (tipo Silvio Santos: lá,lá... lá,lá, lá, lá), o Genoino vem aí (lá,lá... lá,lá, lá, lá), o Color vem aí (lá,lá... lá,lá, lá, lá’). Os assassinos da Daniela Perez (lembram dela?) já estão por aí (lá,lá... lá,lá, lá, lá). E por aí vai. Em falar em Sílvio Santos, sabe por que ele está sempre sorrindo? Na minha opinião, é porque há anos atrás ele matou a charada do Brasil: o Brasil é uma piada! Na única vez que ele cogitou que a coisa não seria bem assim, ele retirou a sua candidatura a Presidente da República (lembram disso?). O que eu lamento profundamente! Lamento que ele e o Antônio Ermírio de Morais não tenham levado suas campanhas eleitorais adiante (lembram disso?), afinal, são empresários bem sucedidos e, com eles, a empresa tem que crescer, e não trabalhou, dançou! E o Brasil é, em linhas gerais, uma empresa que deve ser administrada, o que não anda sendo.

A dor não prescreve (mas o assassino, mais hora, menos hora, sai: livre, leve e solto). O rombo financeiro nas contas da União não prescreve (é coberto através de alguma falcatrua e o povo nem nota). Mas o desaforo é levado para casa e – dia após dia, noite após noite – destilamos nossas dores no travesseiro, pois amanhã é um novo dia, que será igual a qualquer outro dia de 500 anos atrás, 100 anos atrás, 50 anos atrás, 2 dois anos atrás... Se continuar assim – escrevam minhas palavras nas suas próprias páginas – ainda teremos um assassino ou um ladrão no poder (ou já os temos, vocês lembram o que eles fizeram no passado?). E o pior é que vamos sorrir satisfeitos, achando que fizemos uma excelente escolha. E por que não? Qualquer um pode ter vida nova em um país sem memória. E se por acaso lembrarmos quem são os ditos cujos, porque não perdoarmos e darmos a outra face? Assim não agiriam ‘os cordeiros de Deus’? Só nos restaria então libertar os pecados do mundo, ou o mundo dos pecados. Me deseje boa sorte, pois desejo o mesmo para você.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Voto obrigatório? Como assim?!


Ao fazer minha Declaração de Imposto de Renda, um susto. Eu tinha que colocar o número do meu Título de Eleitora! Tudo a ver, não?






Uma das muitas coisas que me fazem sentir uma alienígena neste nosso país é a questão do voto ser obrigatório – e hás de sofrer das consequências se ousares não votar! Não sei se mais pasmada fico pela Constituição, megera ingrata que transforma um direito em dever, ou se me quedo por não haver uma avassaladora reação popular contra tamanha incongruência. Seria eu uma criatura presa nas malhas sutis de uma ignorância inaudita ou, deveras, possuo sensibilidade (e discernimento) suficiente para não me conformar com um óbvio abuso de minha condição de cidadã? Eu posso votar – e devo, se não quiser que outros tomem a decisão por mim – mas não sob a pressão de estar cometendo uma ilegalidade qualquer.

Descamisados, votamos, pois somos obrigados!
E o voto da ignorância dá alarmante constância
À nossa triste condição. Corrupção por corrupção,
A perdição do povo servil, está não só na nossa cara,
Mas também em nossa alma, alma mansa do Brasil!

Esses versos, que fazem parte de um musical que escrevi, refletem bem meu inconformismo. E para aumentar ainda mais meu desalento, meus pobres ouvidos foram vitimados por uma pérola da estreiteza que por essas bandas brasileiras vigora: “É, se não for obrigatório, ninguém vota!”. Você também já deve ter sido acossado por essa mediocridade, expressa por algum ser que nisso se achou um arguto observador. Que seja verdade que muita gente deixaria de votar nesta hipotética sociedade democrática. Deixar-se levar pela votação alheia conduziria a uma amarga sensação de estar vivenciando o que foi decidido por outros e o cidadão que se absteve não se sentiria no direito de reclamar se a coisa descambasse – e descamba, como todos sabemos. Tal indivíduo numa próxima eleição, passaria a ser mais responsável em relação a seu próprio destino.


Não existe evolução verdadeira a não ser a que ocorre quando nos responsabilizamos por nossos atos e arcamos com as consequências, por amargas que sejam. E isso só ocorre com liberdade de opção. É possível ver o que uma gama de deturpações históricas gerou na psicologia brasileira. Não vamos se não nos levarem pelas mãos e outros – mais ativos, mais espertos – tomam as rédeas do país. Não vamos às ruas, aceitamos bovinamente as pizzas servidas após escândalos escabrosos. E a grande coroação do que somos é aceitarmos ser o voto obrigatório. Chegamos a um ponto tão conivente que nos obrigam a dar uma opinião! Opinião dada em fórum público, ano após ano, um dever. E como achamos que ‘cumprimos com nossa obrigação’, lavamos as mãos e aproveitamos o domingo ou o feriadão. Depois, nem sequer temos força de retirar os incompetentes e desonestos dos cargos bem remunerados que ocupam. Bom para eles, péssimo para nós.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sacrificai-vos no Eterno Crescei e Multiplicai-vos!

Apesar de viver no Brasil significar, dentre outras coisas, um constante inconformar-se com as notícias nacionais, cheguei às raias de explodir de indignação com o caso da menina de 9 anos, vítima da pedofilia do padrasto e da ignorância de um bispo que esqueceu de excomungar – já que estava com a corda toda – o dito padrasto. Parece que a igreja católica leva ao pé da letra essa coisa de ‘rebanho’. Tange o gado para cá, tange o gado para lá, ô boi! Mas não é sobre isso que eu quero divagar hoje, mas sim sobre como estamos nos proliferando, também como gado, com a santa benção de palavras bíblicas de 2.000 anos atrás. Impressionante como ainda não se fez um upgrade nesta questão. Afinal, já somos bem mais de 6 bilhões e pelo que eu saiba não vai haver a multiplicação do espaço terrestre disponível ou a transformação do vinho em água potável.

Sou contra o aborto – a não ser nos casos previstos em lei, o que inclui essa pobre menina – porque em pleno século 21 já temos vários meios de evitar a gravidez indesejada. Mas para meu constante e pelo jeito inconsolável pasmo, até nisso a igreja católica se mostra ranheta. Seria esse o motivo pelo qual as questões relativas ao controle de natalidade e planejamento familiar sejam persistentemente excluídas de ações sociais e políticas, noticiários e comentários jornalísticos? Por tratar-se de uma questão ‘espinhosa’? É por isso que nas reportagens em favelas vitimadas por tragédias – aquelas penduradas em barrancos ou literalmente nas margens de um rio, sabe? – todo mundo fica com dó da mãe que não teve dó dos quatro (cinco, seis, sete...) filhos que pôs naquela imundície? O Sertão Nordestino, o pessoal do MST e os Sem-Teto não têm água, terra ou teto, em compensação criança é o que não falta. E quem paga o preço por essa filharada toda? Eles? O governo não vê isso? E os repórteres?

O direito do cidadão acaba quando o efeito de suas ações lesam a sociedade. A maternidade ou paternidade irresponsável está gerando um caos social sem precedentes na forma de violência urbana e exaustão do sistema de saúde e educacional, e tornando insuficientes as ofertas de emprego. Não há plano de governo que supra a crescente e incontrolável demanda. A natalidade desenfreada é como o caso dos carros na cidade de SP: haja rua para tanto carro! E o paternalismo cultivado pelo Estado e pela Igreja não permite que seja repassada, a essas pessoas, sua cota de responsabilidade individual enquanto seres conscientes. Afinal, elas são as principais responsáveis pela manutenção de seu status de exclusão social. Como não existe um enfático projeto acerca da questão, mais e mais pessoas carentes de condições materiais afundam-se – e a seus filhos – na lama de sua própria e triste condição. E quem paga o preço é a sociedade como um todo.

Não quero dizer que uma pessoa desprovida materialmente não possa ter o prazer de criar seus filhos. Entretanto, a quantidade parece ser inimiga natural da qualidade em um caso como esse. Sou a favor de uma campanha nacional de conscientização que mostre a essas pessoas que o pouco com Deus é muito. Quanto menos filhos, maior a possibilidade de carinho, atenção e provisão dos parcos recursos materiais, tanto familiares quanto governamentais. Camisinhas e anticoncepcionais abundantes nos postos de saúde, laqueadura e vasectomia pelo SUS, aconselhamento médico são boas medidas. E já que nosso atual governo é craque no marketing, que vincule essa campanha nacionalmente no rádio, TV, ruas, comunidades e onde se faça necessário. Enquanto isso não for feito, seremos todos vítimas de nossas ações, ou ausência delas. E mesmo que tudo isso seja feito, tenho a ligeira impressão de que o Papa vai se declarar contra.

sábado, 2 de maio de 2009

A Morte do Peru e Outras Considerações sobre o Destino


Divisa de São Paulo com Minas – Santo Antônio do Jardim, próximo a Andradas – cinco pessoas mortas na manhã de 1 de maio em um acidente na rodovia SP 346. Um carro capotou, atingiu outros três na mão oposta. Saldo, até o momento, duas mulheres e uma criança de 2 anos morreram, todas de uma mesma família e que estavam no primeiro dos três carros atingidos, como também morreram o motorista do carro capotado e uma de suas passageiras. Dezesseis pessoas ficaram feridas. Nem um pouco distante dali, andávamos eu e meu marido de bicicleta pelo acostamento da mesma SP 346, como normalmente fazemos. Salvos fomos pelo Destino? Estavam as vítimas, mortas ou feridas, predestinadas a sofrerem esse acidente?

Divaguei e eis que imaginei, por exemplo, o que estariam fazendo naquele momento os responsáveis pelo mau estado da estrada em si – a SP 346 vai bem até o Colégio Agrícola de Espírito Santo do Pinhal (duas pistas duplas com bem-cuidado canteiro central, asfalto lisinho que dá gosto de ver) para então transformar-se em um terror esburacado de uma-pista-vai-a-outra-vem (acostamento pra quê, né?), trecho esse onde aconteceu o acidente. Então meus pensamentos arredios se dirigiram para as mulheres que acabariam morrendo, a arrumarem suas malas e colocando-as no carro bem cedinho, olhando aquela bela manhã ensolarada e acreditando que iriam aproveitar o feriadão.

Aparentemente o Gol capotado estava em alta velocidade e não acredito que Deus obrigue ninguém a pisar fundo no acelerador em uma estrada como aquela. Também me recuso a aceitar que nesta Apoteose de Cartas Marcadas – como muitos consideram a vida como um todo – seja Destino alguém pagar pelo erros de outrem. O que eu tiro do conjunto da obra exposta nos destroços do acidente, é que uma generalizada falta de responsabilidade individual e consciência social gerou os fatores necessários para causar a morte de pessoas que de outra forma estariam vivas. Fica difícil crer que ‘ninguém é peru para morrer na véspera’ sendo que apenas 4% dos acidentes de carro são causados por falha mecânica dos veículos.

Eu e meu marido nunca usamos aquele trecho da SP 346 para andarmos de bicicleta e caminharmos. Afinal, Deus ajuda a quem se ajuda. Da mesma forma, evitamos a SP 342, que liga Pinhal a São João da Boa Vista, pois apesar do bom asfalto e do acostamento, trata-se de uma estrada ‘mão vai – mão vem’ cheia de curvas acentuadas onde uma boa dose de idiotas teoricamente racionais gosta de testar a potência do motor versus suas habilidades na direção – pilotos de ocasião, sabe como é. Se um dia eu for vítima dos 4% de falha mecânica, fazer o quê? – as chances estavam a meu favor, antes eu tivesse jogado na Mega Sena ao invés de caminhar. Só peço ao Bom Deus que o final de minha vida não seja ditado por um Homo pseudo sapiens, 96%, pois consideraria isso uma afronta, não Destino.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

A Insustentável Leveza do Ver

Estamos em plena Era Visual, onde impera o adágio ‘o que os olhos não vêem, o coração não sente’. Está aí a Internet a mostrar que quanto mais conteúdo de apelo visual possuírem blogs, sites e emails, mais populares serão. E se acaso o meio cibernético não for suficiente para fazer valer o velho ditado, procure-se pelas filas no cinema. Nada como o lançamento de qualquer filme de ação, com suas típicas e rápidas sucessões de imagem, para que as pessoas se esqueçam da inconveniência de esperar, em pé, que a longa distância entre o último lugar na fila e o guichê de ingresso diminua. Filas como estas, em livrarias, só se for pelo lançamento de um Harry Potter da vida – Deus abençoe Rowling – mas, afinal, ‘uma imagem vale mais do que mil palavras’.

Há pouquíssimo tempo, uma outra sabedoria dos antigos foi posta à prova. ‘Longe dos olhos, longe do coração’ reinou soberano entre os bem apessoados do programa Britain’s Got Talent e foi necessário uma Susan Boyle abrir a boca, e estimular o ambiente auditivo do auditório, para que o entorpecimento mental da platéia e jurados fosse sacudido, lembrando a todos o por quê de estarem diante daquele palco. O motivo do susto justifica-se em uma época na qual, para cantar e efetuar uma performance digna - enfim, para ser o artista musical adorado pelas massas – beleza, ou ao menos um ‘estilo’ que encha os olhos, é mais do que fundamental. Como disse Vinícius, ‘perdoem-me as feias’. Talvez por isso os ouvidos estejam cada vez mais sensibilizados pelo que anda a tocar nas estações de rádio.

E se ‘uma imagem vale mais do que mil palavras’, diga-se de passagem que também vale mais do que mil qualidades. O design substituindo a funcionalidade, cores e formas como moto da atração de compra de um objeto por vezes inútil, como o comprovam as imensas vitrines nas lojas e as igualmente grandes faturas (e inadimplências) de cartão de crédito. E por que TVs tão grandes? Ora, para te ver melhor, chapeuzinho! Para que surround system, se o que se diz é “Você viu o que passou ontem na TV?” e o que se ouve não chega aos pés do que se pode ver das portentosas e carnudas opções sempre à mostra na telinha? Fotografou? Não?! Dançou...

Não me entendam mal. Uma pessoa observadora vale ouro, pois além de ver com os olhos que o bom Deus lhe deu, usa o cérebro – que também faz parte do pacote concedido pela Graça Divina – para daí retirar o teor do visto. Sou fã incondicional da beleza, que por sinal ‘está nos olhos de quem vê’. Acredito piamente que ‘os olhos são a janela da alma’, mas não a alma em si. E em existindo mesmo essa tal alma, acredito que estará mais bem nutrida se alimentar-se de todos os cinco sentidos, temperados logicamente por uma saudável dose de bom-senso e discernimento.