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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Criando Cobras

Somos seres orgânicos, compartilhando não só do mecanismo genético da Natureza, como também das heranças genéticas comuns a vários outros seres. Perdoem-me os Criacionistas, mas Darwin tem razão em sua Origem das Espécies. Com isso não quero dizer que não há um Deus, mas óbvio está que, se Ele teve intenções especiais para com o ser humano, teve que usar as velhas regras naturais para chegar à sua ‘Obra-Prima’, o Homo Sapiens. Guardo cá comigo minha opinião sincera acerca de sermos ou não o alvo da divina criação, porém, em caso afirmativo, que papelão não estaríamos fazendo, não é verdade?

A célebre contenda entre Santo Agostinho e Pelágio ilustra bem o ponto-chave de minha opinião sobre quanto de predestinação ou de livre-arbítrio existe em nossa situação humana. Foi uma longa e douta discussão, essa entre os dois, mas fico com Pelágio quando diz que a condição humana é perfeitamente natural, fruto das leis da Natureza, e não uma praga divina sempre a pairar sobre nossas pecadoras cabeças. As doenças que nos afligem são de origem natural e, devo dizer, nossa sapiência está fazendo de tudo para piorar as coisas para nós – e nesse ponto talvez Santo Agostinho tivesse razão, caso a parte de Deus em nós atender pelo nome de Sapiência.

As espécies animais e vegetais se adaptam ao mundo natural. Em nosso humano caso, forçamos o mundo natural a se adaptar a nós – só com aparente sucesso, como está cada vez mais claro. Não tenho dados precisos sobre a variedade de doenças que afligem aos demais seres, mas a contar pelos inúmeros trabalhos científicos que traduzi, estamos em primeiríssimo lugar entre os seres mais atacados por doenças e fraquezas genéticas. Não obedecemos à seleção natural, superpovoamos à revelia da disponibilidade de recursos e espaço físico, poluímos nossa água, ar e alimentos. Sinceramente, não existe obra-prima orgânica que aguente esse bombardeio.

Temos vacina para a gripe, mas também a gripe suína. Esta não é a primeira, nem será a última gripe. Vírus é vírus, anda entre nós com a graciosidade e acrobacias de um bailarino no palco. Só que infecções virais não chegam aos pés da mortandade causada por infecções bacterianas e estamos, através do uso errôneo e indiscriminado de antibióticos, a alguns passos de conseguirmos aquela que será a obra-prima de nossa ‘sapiência’: a superbactéria. Não vejo nisso os agostinianos Sete Pecados Capitais, apenas a forma canhestra como nossa espécie tenta sobreviver. Entretanto, ao olhar em volta e ver o estado em que se encontra o mundo, acho que estamos perdendo feio. E, sabe como é, a Natureza sempre dá a palavra final.