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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A Última Fronteira Humana


George Orwell, ou melhor, Eric Arthur Blair (seu verdadeiro nome) foi um escritor cuja marca registrada era sua aversão contra toda forma de autoritarismo. Em seu livro '1984' – escrito em 1949 – ele descreve uma sociedade oligárquica coletivista que reprime qualquer um que a ela se oponha. O ‘Grande Irmão’ (isso mesmo, Big Brother) mantém vigilância sobre todos, vinte e quatro horas por dia. O personagem principal, Winston Smith, é o encarregado da propaganda do partido, forjando documentos, notícias e modificando até mesmo a História para que esta coincida com os interesses do governo. Ou seja, apaga a memória do povo, já habituado – treinado – a esquecer.

A ideia de Orwell, longe de ser fantasia, é um fato histórico acontecido não apenas na política. Na Idade Média, a Igreja Católica queimou livros que iam contra seus dogmas e destruiu objetos de arte pagãos. Combateu ainda a tradição oral arraigada na população, celebrando santos e festivais católicos nos mesmos dias e épocas cultuados por outras religiões locais. Um caso clássico de como a manobra funciona é a Festa Junina. Ninguém mais sabe, mas 24 de junho é o solstício de verão europeu, dia em que os celtas celebravam a fertilidade em volta de uma fogueira (exatamente, só que não havia casamento, pois não era uma tradição desse povo). Lavagem cerebral pura - e quem não esquecesse, era queimado junto com os livros e demais artigos queimáveis.

A queima ou proibição de livros e a opressão à liberdade de expressão são usuais ferramentas do totalitarismo. Foram esses estratagemas usados por Stálin, Hitler e outros representantes de ditaduras (de esquerda ou direita), bem como por todas as religiões que impõem seus dogmas. Com os avanços nos meios de comunicação, rádios, canais de TV, jornais, revistas e outdoors começaram a ser ‘recrutados’ a serviço de ‘verdades únicas e irrefutáveis’, pois não basta proibir que as pessoas se expressem, é necessário controlar o que elas pensam. Pode-se impedir um ser humano de agir e falar, mas não se pode obrigá-lo a não pensar. Ou se pode?

O pensamento é o último território a ser conquistado por tiranos. Controlar a mente de uma pessoa é tirar-lhe a autonomia, a análise, a contestação. Nesta época de estímulos sensoriais imediatos, é fácil transformar seres pensantes em comportadas marionetes. Junte-se a isso a tendência mundial à inércia mental, à credulidade irrestrita e ao consumismo desenfreado. Preguiça de usar os neurônios, seguir cegamente um líder para não se responsabilizar pelos próprios atos e acostumar-se a usar e jogar fora são características desejáveis quando não se quer um ser íntegro, mas um dócil e obediente bichinho de estimação – em outras palavras, quando se quer conquistar a última fronteira humana.