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sábado, 22 de maio de 2010

Diluídos, afinal!


Confesso que, vez por outra, eu me exponho ao que me é desagradável. Não faço isso devido a uma complicada forma de masoquismo, mas por ter, em certa ocasião, levado a alcunha de preconceituosa. Como a definição feita de mim à época bem que se encaixou, decidi tentar ver se, mudando de atitude, poderia eu por fim tirar essa carapuça de minha desdenhosa cabeça. Verdade é que tenho tido agradáveis, porém muito escassas, surpresas. Infelizmente, e na maior parte das vezes, a exceção confirma a regra e fico eu com um desgostoso esgar de “Eu não disse?”.

Uma das coisas às quais sempre evitei me expor foram noticiários, pois nunca tive talento para aceitar fazer papel de trouxa. Outra coisa que prefiro deixar passar é a moda: a roupa da moda, a celebridade da moda, o programa da moda, a revista da moda, o carro da moda, a música da moda, eteceteras da moda. Apesar de ser versátil e curiosa, minha natureza não é superficial ou fútil. Por outro lado, conforme passa o tempo, aquilo que chega às paradas de sucesso humano mostra-se cada vez mais destituído de conteúdo e propósito. Nunca fui afeita a nosenses.

Exemplos a justificar meu crescente desdém? Vem aí a Copa do Mundo e eis que uma propaganda de televisão, feita de encomenda para debiloides, mostra zumbis retardados dizendo “Futebol!”. A mensagem até que é pertinente, mas a simples realidade brasileira desses mortos-vivos destituídos de neurônios deu-me arrepios maiores do que qualquer produção de George Romero. E para acabar com a moral de qualquer pensamento coerente neste país, vem aí – diretamente saído da cozinha de ‘Mais Você’ – o romance histórico de Ana Maria Braga, estreante literária devidamente assessorada pela Rede Globo e por Paulo Coelho. Tenho certeza que será um best seller.

Acredito em karma, como também em oferta e procura. Tenho absoluta convicção de que em vidas passadas plantei o que por ora testa minha paciência, isto é, ser uma alienígena neste planeta de futilidade, corrupção e carnaval, também conhecido por Brasil. E nada me tira da cabeça que tudo que está sendo oferecido não seja profundamente apreciado pela nossa desmiolada massa nacional, cobaia de um paulatino processo de diluição mental que enfim chega a seu apoteótico objetivo. Podem, portanto, me chamar de ranzinza, quadrada, pessimista. Assumirei condignamente minha sincera opinião de que, daqui para frente, vamos morro abaixo e sem escalas.