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Writer, translator e interpreter.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Quando Silêncio é Culpa

Sim, eu sei. O silêncio é de ouro, a palavra é de prata. O velho ditado funciona bem em diversas situações humanas. Durante uma discussão familiar, por exemplo, quando estender o assunto durante o acesso de raiva irá minar as bases de um relacionamento – e, como dizem os antigos, vaso quebrado mesmo colado não aguenta mais água e flor. No ambiente profissional também, principalmente em dia de dor de cabeça, contas a pagar (pior se for dia de pagamento e o salário não der) ou diante de um projeto ingrato com prazo já vencendo. Calar, por vezes, é obrigação moral.

Por outro lado, quanto menos uma pessoa fala, mais ela ouve e observa. Quanto mais ouvirmos e observarmos, mais chances teremos de perceber diferentes aspectos de uma situação ou de apreender detalhes sutis, mas importantes, do mundo a nossa volta. Também existe a tendência de gostarmos do som de nossa própria voz, como se naquele único momento de onipotência face à plateia (ou um exclusivo par de orelhas), compensássemos toda uma vida de anonimato em meio à multidão. Afinal, ao falar, expressamos nossas ideias e ideais ou simplesmente jogamos conversa fora para quebrar o silêncio, mas somos o centro das atenções – e quem não gosta de atenção?

Calar, sim, pode ser sinal de sabedoria. Talvez não concordemos ou saibamos que iremos gerar controvérsia e desequilíbrio quando isso não se faz absolutamente necessário. Calar pode igualmente demonstrar nosso apreço por quem fala, nossa empatia ou até mesmo simpatia para com essa pessoa. Nesse último caso, queremos apenas ouvir sem que nosso ego interfira, entender o que é dito, deixando o outro se expressar como bem entender sem emitirmos opiniões que interromperiam um afluxo de sentimentos que precisam ser desabafados. Elegância pura é saber ouvir uma opinião contrária e ao mesmo tempo ponderar as próprias opiniões face ao que é dito.

Infelizmente, existem situações na vida onde não falar é criminoso – ou prova cabal de um crime que jamais será admitido. Veja nosso prolixo (falante) governo federal. Gastam, seus principais representantes, palavras e mais palavras, todas obviamente enaltecendo suas melhores façanhas – a rigor uma meia dúzia delas, sempre a mesma meia dúzia criativamente expressa de maneira a parecer que são mais de seis. Belas propagandas de TV, ninguém há de negar. Mas tais representantes do povo não proclamam publicamente as suas incompetências, seus desatinos, seus salários e mordomias indecentes. Não prestam conta dos impostos que cobram, nem espalham aos sete ventos suas verdadeiras intenções. Nesse último e execrável caso, calar é hipocrisia pura - nada, além disso.