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domingo, 20 de junho de 2010

Pão, Circo e Detalhes Obscenos

Panem et circenses significa, popularmente, “pão e circo”. Política criada pelos antigos romanos, previa o fornecimento de comida e farta diversão ao povo com o objetivo de diminuir a insatisfação popular contra os governantes. Na prática, tratava-se de espetáculos sangrentos nos estádios para divertir a população, quando então pães eram distribuídos gratuitamente (sim, bolsa família à moda antiga). O resultado, obviamente, era o governo ser aceito incondicionalmente, independente da realidade decrépita do Estado e das vantagens e corrupção dos governantes.

Não é preciso grande poder de análise para ver as descaradas semelhanças com nossa política atual, ainda mais agora com a Copa do Mundo a pleno vapor. A televisão brasileira, veículo de divulgação muito mais eficiente do que os arautos da Roma Antiga, participa ativamente: cobertura completa dos jogos, comerciais ufanistas (até a lâmina de barbear Mach 3, produto importado dos Estados Unidos, agora é brasileira) e telejornais que só falam nisso, um deles chamando de ‘patriotismo’ um bando de crianças cantando o Hino Nacional Brasileiro diante da televisão antes do jogo de futebol.

Atenção do povo devidamente embriagada, chega então a hora de os governantes colocarem as manguinhas de fora. No dia 23 de junho, por exemplo, serão discutidas as controversas alterações na Lei Ambiental, onde talvez os ruralistas derrubem (e eles adoram essa palavra!) os entraves que os impedem de expandir seus domínios sobre o Pantanal e a Amazônia. Por outro lado, quem agora se importa que o Lula tenha aprovado o aumento de 25% para os deputados (aposentados, inclusive), se o importante mesmo é o Kaká conseguir ou não jogar uma boa partida?

A tecnologia adicionou mais um fator a esse quadro já sinistro: propaganda. Campanhas publicitárias, sempre ufanistas e despudoradamente usadas por ditadores como Stálin e Hitler (com sucesso, diga-se de passagem), agora somam aos gastos públicos mais de 1.7 bilhão de reais no governo de Lula, um aumento de 48% desde o ano de 2003. Então, não basta entuchar a barriga do povo com bolsa família e afins e martelar cabeças com futebol: faz-se necessário gastar milhões com belas imagens e afirmações otimistas para garantir à população que, sim, o brasileiro ainda leva vantagem em tudo e não tem do que reclamar.