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sábado, 2 de maio de 2009

A Morte do Peru e Outras Considerações sobre o Destino


Divisa de São Paulo com Minas – Santo Antônio do Jardim, próximo a Andradas – cinco pessoas mortas na manhã de 1 de maio em um acidente na rodovia SP 346. Um carro capotou, atingiu outros três na mão oposta. Saldo, até o momento, duas mulheres e uma criança de 2 anos morreram, todas de uma mesma família e que estavam no primeiro dos três carros atingidos, como também morreram o motorista do carro capotado e uma de suas passageiras. Dezesseis pessoas ficaram feridas. Nem um pouco distante dali, andávamos eu e meu marido de bicicleta pelo acostamento da mesma SP 346, como normalmente fazemos. Salvos fomos pelo Destino? Estavam as vítimas, mortas ou feridas, predestinadas a sofrerem esse acidente?

Divaguei e eis que imaginei, por exemplo, o que estariam fazendo naquele momento os responsáveis pelo mau estado da estrada em si – a SP 346 vai bem até o Colégio Agrícola de Espírito Santo do Pinhal (duas pistas duplas com bem-cuidado canteiro central, asfalto lisinho que dá gosto de ver) para então transformar-se em um terror esburacado de uma-pista-vai-a-outra-vem (acostamento pra quê, né?), trecho esse onde aconteceu o acidente. Então meus pensamentos arredios se dirigiram para as mulheres que acabariam morrendo, a arrumarem suas malas e colocando-as no carro bem cedinho, olhando aquela bela manhã ensolarada e acreditando que iriam aproveitar o feriadão.

Aparentemente o Gol capotado estava em alta velocidade e não acredito que Deus obrigue ninguém a pisar fundo no acelerador em uma estrada como aquela. Também me recuso a aceitar que nesta Apoteose de Cartas Marcadas – como muitos consideram a vida como um todo – seja Destino alguém pagar pelo erros de outrem. O que eu tiro do conjunto da obra exposta nos destroços do acidente, é que uma generalizada falta de responsabilidade individual e consciência social gerou os fatores necessários para causar a morte de pessoas que de outra forma estariam vivas. Fica difícil crer que ‘ninguém é peru para morrer na véspera’ sendo que apenas 4% dos acidentes de carro são causados por falha mecânica dos veículos.

Eu e meu marido nunca usamos aquele trecho da SP 346 para andarmos de bicicleta e caminharmos. Afinal, Deus ajuda a quem se ajuda. Da mesma forma, evitamos a SP 342, que liga Pinhal a São João da Boa Vista, pois apesar do bom asfalto e do acostamento, trata-se de uma estrada ‘mão vai – mão vem’ cheia de curvas acentuadas onde uma boa dose de idiotas teoricamente racionais gosta de testar a potência do motor versus suas habilidades na direção – pilotos de ocasião, sabe como é. Se um dia eu for vítima dos 4% de falha mecânica, fazer o quê? – as chances estavam a meu favor, antes eu tivesse jogado na Mega Sena ao invés de caminhar. Só peço ao Bom Deus que o final de minha vida não seja ditado por um Homo pseudo sapiens, 96%, pois consideraria isso uma afronta, não Destino.