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sexta-feira, 1 de maio de 2009

A Insustentável Leveza do Ver

Estamos em plena Era Visual, onde impera o adágio ‘o que os olhos não vêem, o coração não sente’. Está aí a Internet a mostrar que quanto mais conteúdo de apelo visual possuírem blogs, sites e emails, mais populares serão. E se acaso o meio cibernético não for suficiente para fazer valer o velho ditado, procure-se pelas filas no cinema. Nada como o lançamento de qualquer filme de ação, com suas típicas e rápidas sucessões de imagem, para que as pessoas se esqueçam da inconveniência de esperar, em pé, que a longa distância entre o último lugar na fila e o guichê de ingresso diminua. Filas como estas, em livrarias, só se for pelo lançamento de um Harry Potter da vida – Deus abençoe Rowling – mas, afinal, ‘uma imagem vale mais do que mil palavras’.

Há pouquíssimo tempo, uma outra sabedoria dos antigos foi posta à prova. ‘Longe dos olhos, longe do coração’ reinou soberano entre os bem apessoados do programa Britain’s Got Talent e foi necessário uma Susan Boyle abrir a boca, e estimular o ambiente auditivo do auditório, para que o entorpecimento mental da platéia e jurados fosse sacudido, lembrando a todos o por quê de estarem diante daquele palco. O motivo do susto justifica-se em uma época na qual, para cantar e efetuar uma performance digna - enfim, para ser o artista musical adorado pelas massas – beleza, ou ao menos um ‘estilo’ que encha os olhos, é mais do que fundamental. Como disse Vinícius, ‘perdoem-me as feias’. Talvez por isso os ouvidos estejam cada vez mais sensibilizados pelo que anda a tocar nas estações de rádio.

E se ‘uma imagem vale mais do que mil palavras’, diga-se de passagem que também vale mais do que mil qualidades. O design substituindo a funcionalidade, cores e formas como moto da atração de compra de um objeto por vezes inútil, como o comprovam as imensas vitrines nas lojas e as igualmente grandes faturas (e inadimplências) de cartão de crédito. E por que TVs tão grandes? Ora, para te ver melhor, chapeuzinho! Para que surround system, se o que se diz é “Você viu o que passou ontem na TV?” e o que se ouve não chega aos pés do que se pode ver das portentosas e carnudas opções sempre à mostra na telinha? Fotografou? Não?! Dançou...

Não me entendam mal. Uma pessoa observadora vale ouro, pois além de ver com os olhos que o bom Deus lhe deu, usa o cérebro – que também faz parte do pacote concedido pela Graça Divina – para daí retirar o teor do visto. Sou fã incondicional da beleza, que por sinal ‘está nos olhos de quem vê’. Acredito piamente que ‘os olhos são a janela da alma’, mas não a alma em si. E em existindo mesmo essa tal alma, acredito que estará mais bem nutrida se alimentar-se de todos os cinco sentidos, temperados logicamente por uma saudável dose de bom-senso e discernimento.