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sexta-feira, 9 de abril de 2010

A Eterna Tragédia Brasileira

Certo, a casa caiu – quero dizer, o morro caiu. Todos nós agora com nossos voláteis olhos voltados a todos aqueles que algum dia decidiram que uma casa no morro é tão boa quanto qualquer outra. Todas as línguas agora maldizendo o prefeito do Rio de Janeiro. Todos os superficiais corações sofrendo numa única corrente, pra frente Brasil, salve a seleção. Enfim, todo um país diante de uma tragédia anunciada acreditando que o problema é de agora e que, sim, o culpado pode ser rastreado por seu nome e número de RG (ou título eleitoral).

Nelson Pereira dos Santos filmou ‘Rio 40 Graus’ na década de 50 – e já havia favelas no morro. As favelas não apenas aumentaram como continuaram a se alastrar em diferentes morros. Quantas gerações desde então? Quantos governos (situação e oposição) desde então? Seja como for, claro está a olhos e mentes mais atentos que o problema vem se arrastando há décadas: o problema de administrações que não agem e de populações que não se responsabilizam por sua própria vida, nem que seja em benefício próprio.

Quem é o responsável por essa pobreza que se expõe em áreas de risco e não sai dali nem arrastada? Melhor seria perguntar o que gera essa específica pobreza? Ou então quem é o responsável por administrar os efeitos sociais dessa tal pobreza? De qualquer forma, foi-se a década de 50 e estamos, mais de sessenta anos depois, chafurdando (agora literalmente) nos mesmos problemas. Como tudo isso aconteceu, acontece e, Deus nos livre e guarde, acontecerá? Seria o povo brasileiro 'vítima' de tamanho descaso e emocionalismo vãos ao ponto de não perceber que o buraco é e sempre foi mais embaixo?

O morro caiu e sempre cairá. Enquanto houver uma cultura populista e de irresponsabilidade pessoal, social e administrativa, o morro sempre cairá. Não adianta mandar bombeiros, não adianta mandar mantimentos e doações, o morro sempre cairá. Cairá enquanto os pobres não assumirem sua pobreza com dignidade e enquanto o governo usar a falta de dignidade dos pobres para seus próprios fins. Cairá por todo o tempo em que durar a indiferença das pessoas em relação a si mesmas e aos outros. Enquanto neste país perdurar o imediatismo aliado à inação e ao proveito próprio, morros cairão – pois o morro, com ou sem favelas, sempre cai. É da natureza do morro cair.