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terça-feira, 5 de maio de 2009

Voto obrigatório? Como assim?!


Ao fazer minha Declaração de Imposto de Renda, um susto. Eu tinha que colocar o número do meu Título de Eleitora! Tudo a ver, não?






Uma das muitas coisas que me fazem sentir uma alienígena neste nosso país é a questão do voto ser obrigatório – e hás de sofrer das consequências se ousares não votar! Não sei se mais pasmada fico pela Constituição, megera ingrata que transforma um direito em dever, ou se me quedo por não haver uma avassaladora reação popular contra tamanha incongruência. Seria eu uma criatura presa nas malhas sutis de uma ignorância inaudita ou, deveras, possuo sensibilidade (e discernimento) suficiente para não me conformar com um óbvio abuso de minha condição de cidadã? Eu posso votar – e devo, se não quiser que outros tomem a decisão por mim – mas não sob a pressão de estar cometendo uma ilegalidade qualquer.

Descamisados, votamos, pois somos obrigados!
E o voto da ignorância dá alarmante constância
À nossa triste condição. Corrupção por corrupção,
A perdição do povo servil, está não só na nossa cara,
Mas também em nossa alma, alma mansa do Brasil!

Esses versos, que fazem parte de um musical que escrevi, refletem bem meu inconformismo. E para aumentar ainda mais meu desalento, meus pobres ouvidos foram vitimados por uma pérola da estreiteza que por essas bandas brasileiras vigora: “É, se não for obrigatório, ninguém vota!”. Você também já deve ter sido acossado por essa mediocridade, expressa por algum ser que nisso se achou um arguto observador. Que seja verdade que muita gente deixaria de votar nesta hipotética sociedade democrática. Deixar-se levar pela votação alheia conduziria a uma amarga sensação de estar vivenciando o que foi decidido por outros e o cidadão que se absteve não se sentiria no direito de reclamar se a coisa descambasse – e descamba, como todos sabemos. Tal indivíduo numa próxima eleição, passaria a ser mais responsável em relação a seu próprio destino.


Não existe evolução verdadeira a não ser a que ocorre quando nos responsabilizamos por nossos atos e arcamos com as consequências, por amargas que sejam. E isso só ocorre com liberdade de opção. É possível ver o que uma gama de deturpações históricas gerou na psicologia brasileira. Não vamos se não nos levarem pelas mãos e outros – mais ativos, mais espertos – tomam as rédeas do país. Não vamos às ruas, aceitamos bovinamente as pizzas servidas após escândalos escabrosos. E a grande coroação do que somos é aceitarmos ser o voto obrigatório. Chegamos a um ponto tão conivente que nos obrigam a dar uma opinião! Opinião dada em fórum público, ano após ano, um dever. E como achamos que ‘cumprimos com nossa obrigação’, lavamos as mãos e aproveitamos o domingo ou o feriadão. Depois, nem sequer temos força de retirar os incompetentes e desonestos dos cargos bem remunerados que ocupam. Bom para eles, péssimo para nós.