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sábado, 23 de maio de 2009

Entre a Asinha do Frango e a Asa do Avião

Falou-se e falou-se, comemorou-se a vitória na forma de penas, calou-se a derrota de nossas aeronaves. Interessante como jornalistas, únicos habilitados pela lei brasileira a emitir opiniões nos meios de comunicação, em nenhum momento do último dia 19 tenham feito notar (à pequena parcela da população sintonizada no noticiário) a triste situação de celeiro do mundo que, tudo indica, manteremos. Atualmente, nossos carros-chefes no comércio Brasil-China são soja e ferro. Agora o frango. Nossos afamados aviões vão ficar a ver navios se depender de nosso ‘parceiro comercial’. O mesmo ‘parceiro’ que não pensou duas vezes em injetar 41 bilhões na Petrobras, outra fornecedora de matéria-prima (e cuja CPI anda deixando o Lula irritado...).

E nosso atual governo, campeão do marketing e marketeiros, eis que conjuga sua visita avícola à China comunista no exato dia em que Sadia e Perdigão anunciam sua fusão, com direito a estampar sua nova marca, a Brasil Foods, em todas as primeiras páginas da Internet e na camisa do Coringão, atual campeão do paulistão e, para o Lula, time do coração! – rimou, né? E por que não, se isso tudo foi feito com premeditada intenção?

Falou-se e falou-se, mas não se perguntou por que nossos industrializados e nossa tecnologia não seriam do interesse chinês. E ninguém cobrou do governo Lula – que anunciou medidas severas quando da demissão de 4.000 funcionários da Embraer – para que usasse dessa mesma energia para cobrar a quebra da intenção chinesa para a compra das aeronaves dessa mesma empresa. São 45 aviões modelo 190 da Embraer, compra anunciada em 2006 pelos chineses, mas cancelada em novembro passado. Dois pesos e duas medidas? Ou hábito arraigado em sermos nada além da imensa quitanda, a sempre prover horti e fruti a países cuja indústria avança inexorável para o bem de suas respectivas populações?

Se não houver imediata reversão de país agrário e servil para industrializado e tecnologicamente desenvolvido, para que universidades e cursos técnicos no Brasil, se o que iremos precisar mesmo será de uma população rural obediente, pobre mas contente em alimentar o resto do mundo e alimentar-se do caro refugo de baixa qualidade que sobrar? À China, esse ‘tigre asiático’ – alcunha perfeita, pois se trata de um predador – só interessa comprar matéria-prima. E para quem ainda não sabe, toda a tecnologia que a China faz questão de desenvolver e vender, já mostra seus frutos na crescente especialização de seu sistema de ensino de alta qualidade. Lamento desfazer os sonhos de nosso (ingênuo?) presidente: “Os dois países (Brasil e China) vão escrever uma nova história da humanidade neste século”. Não, presidente. A China vai escrever a história, nós vamos nos limitar (como sempre) a manter a população e a indústria chinesas bem-alimentadas.