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terça-feira, 15 de setembro de 2009

Algemas e Cabrestos, Angras e Reis

Perdoem-me os cegamente otimistas, os fãs de carteirinha, as torcidas organizadas, os pueris e as Marias que vão com as outras. Não acho que o Brasil é um país em desenvolvimento. Não vejo um futuro brilhante para nós, da mesma forma que não acredito em Papai Noel. Depois da tempestade não virá a bonança, pois nós, apenas e placidamente, aguardamos no enganador olho da tempestade – a calmaria nos faz sentar tranquilos quando deveríamos sair correndo enquanto é tempo. E aqueles que gostariam de me apedrejar por tais palavras devem aguardar que termine eu de me expressar.

Comecemos pelas bases, por nossas escolas públicas. Estão sindicalizadas ao ponto de não ser possível afastar um incompetente do cargo de professor. Se essa mínima e premente alteração não se faz possível, quem dirá o resto. Um cidadão mal-formado não tem plena ciência da situação a sua volta e um dia tomará decisões coerentes com suas (parcas) potencialidades – inclusive através do voto obrigatório (atual democracia brasileira). O cidadão é a base da sociedade que, por seu turno, é a base do país. Um cidadão mal-preparado é inerte, não sabe o que faz, o que pensa, o que quer. O que nos leva ao que vem a seguir.

Para haver mudanças, é necessário que os detentores do poder (representantes do povo) tenham honestidade (para com os bens públicos), visão (para com as necessidades públicas) e boa vontade (para trabalhar em prol do público, o qual representam). Entretanto, tais governantes foram, em sua maioria, eleitos por pessoas que mal sabem o que fazem e o que acontece – e tais governantes sabem disso, navegando em cargos públicos segundo suas próprias conveniências e impunemente ditando regras para suas próprias condutas e direitos. Para eles, o povo não passa de gado: que seja controlável, dê lucro e o mínimo de trabalho possível. Sugando o dinheiro público e não trabalhando como deveriam, nos lançam ao parágrafo escrito anteriormente e assim recomeça o ciclo.

Os resultados estão aí e quem não é cego que veja. Os impostos excessivos e mal-direcionados, as indecentes regalias políticas, o mau uso dos recursos humanos e físicos, as incoerências administrativas e a impunidade generalizada há muito teriam explodido na forma de violenta revolta popular em outros países – os desenvolvidos, conquanto desenvolvimento não significa necessariamente dinheiro, mas postura e autoconsciência. Mas eis que estamos agindo como se a coisa toda fosse (e estivesse sendo) bem feita. E assim agiremos ad infinitum (do latim, literalmente ‘até o infinito’, mas prefiro a versão ‘para todo sempre’). A boiada bem-comportada, já antes detentora de uma usina nuclear, é agora a feliz possuidora do pré-sal. Acredite se quiser.