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terça-feira, 14 de julho de 2009

Nivelando por Baixo


Parece ser minha sina acompanhar, em eterno pasmo, o dom que vários administradores têm para destruir os talentos de seus municípios. Vivi em muitos lugares e sei o que estou dizendo. Nem todas as cidades deveriam se transformar numa Guarulhos – com suas indústrias cercadas de bairros populares e violentos – da mesma forma que ser uma estância balneária não condena nenhuma cidade praiana a se parecer com a também violenta, poluída e absurdamente imobiliada Praia Grande. Em geral, quanto menor uma cidade, maiores as chances de fazer bom uso dos recursos naturais e humanos existentes. Entretanto, a partir de certo ponto, perde-se o controle para nunca mais.

O primeiro sintoma de que uma cidade está perdendo seu rumo é – em se tratando de cidade centenária – a demolição de seus prédios e casarões históricos, suas estações de trem do século passado relegadas, se não ao desuso, ao total descaso (Jaguariúna e Campos do Jordão não cometeram esse deslize, pelo menos não esse). A seguir, não se investe em festivais típicos que valorizem a cultura local e nem se incentiva a inclusão da cidade em circuitos ecológicos e culturais de cunho nacional e internacional. Em outras palavras, não se coloca essa cidade no lucrativo patamar de cidade turística, a atrair pessoas que injetem dinheiro no comércio e nos cofres públicos sem que sua presença constitua uma ameaça ao bem-estar da população nativa e seu entorno.

Muitas pessoas de cidades pequenas já repararam que ‘crescimento’ nem sempre significa ‘qualidade de vida’, e quase nunca traz benefícios reais para a população local. Atrair o tipo errado de investimento e, por consequência, tipo errado de capital humano, destrói qualquer oportunidade de enaltecer as características que muitos procuram no interior e no litoral – a beleza natural e atividades turísticas e culturais – e pelas quais estão dispostos a pagar (e muito bem). Basta uma administração sem visão para que um lugar lindo e cheio de atrativos se transforme numa cidade industrial cercada, por todos os lados, de favelas (ou bairros populares, no fim tanto faz). Nenhum turista vem a um lugar feio, mal-cheiroso e violento, isso eu garanto.

O Rio de Janeiro não é mais a ‘Cidade Maravilhosa’, ir ao centro de São Paulo não é mais chique. Não creio que sejam bons referenciais para qualquer administrador atento e consciencioso. Praia Grande é um lixo e do Guarujá só sobrou a orla (para quem não tem medo de pegar micose). Angra dos Reis só vale pelo passeio de barco e as ilhas, a cidade em si é cheia de barracos e lixo. Portanto fica aqui meu recado a quem possa interessar. Quando os digníssimos senhores pensarem em ‘progresso’, sugiro que o procurem nas cidades históricas de Minas e nas pequenas e charmosas comunidades de Santa Catarina. Em outras palavras, não cresçam só por crescer. Evoluam.