Quem sou eu

Minha foto
Writer, translator e interpreter.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sacrificai-vos no Eterno Crescei e Multiplicai-vos!

Apesar de viver no Brasil significar, dentre outras coisas, um constante inconformar-se com as notícias nacionais, cheguei às raias de explodir de indignação com o caso da menina de 9 anos, vítima da pedofilia do padrasto e da ignorância de um bispo que esqueceu de excomungar – já que estava com a corda toda – o dito padrasto. Parece que a igreja católica leva ao pé da letra essa coisa de ‘rebanho’. Tange o gado para cá, tange o gado para lá, ô boi! Mas não é sobre isso que eu quero divagar hoje, mas sim sobre como estamos nos proliferando, também como gado, com a santa benção de palavras bíblicas de 2.000 anos atrás. Impressionante como ainda não se fez um upgrade nesta questão. Afinal, já somos bem mais de 6 bilhões e pelo que eu saiba não vai haver a multiplicação do espaço terrestre disponível ou a transformação do vinho em água potável.

Sou contra o aborto – a não ser nos casos previstos em lei, o que inclui essa pobre menina – porque em pleno século 21 já temos vários meios de evitar a gravidez indesejada. Mas para meu constante e pelo jeito inconsolável pasmo, até nisso a igreja católica se mostra ranheta. Seria esse o motivo pelo qual as questões relativas ao controle de natalidade e planejamento familiar sejam persistentemente excluídas de ações sociais e políticas, noticiários e comentários jornalísticos? Por tratar-se de uma questão ‘espinhosa’? É por isso que nas reportagens em favelas vitimadas por tragédias – aquelas penduradas em barrancos ou literalmente nas margens de um rio, sabe? – todo mundo fica com dó da mãe que não teve dó dos quatro (cinco, seis, sete...) filhos que pôs naquela imundície? O Sertão Nordestino, o pessoal do MST e os Sem-Teto não têm água, terra ou teto, em compensação criança é o que não falta. E quem paga o preço por essa filharada toda? Eles? O governo não vê isso? E os repórteres?

O direito do cidadão acaba quando o efeito de suas ações lesam a sociedade. A maternidade ou paternidade irresponsável está gerando um caos social sem precedentes na forma de violência urbana e exaustão do sistema de saúde e educacional, e tornando insuficientes as ofertas de emprego. Não há plano de governo que supra a crescente e incontrolável demanda. A natalidade desenfreada é como o caso dos carros na cidade de SP: haja rua para tanto carro! E o paternalismo cultivado pelo Estado e pela Igreja não permite que seja repassada, a essas pessoas, sua cota de responsabilidade individual enquanto seres conscientes. Afinal, elas são as principais responsáveis pela manutenção de seu status de exclusão social. Como não existe um enfático projeto acerca da questão, mais e mais pessoas carentes de condições materiais afundam-se – e a seus filhos – na lama de sua própria e triste condição. E quem paga o preço é a sociedade como um todo.

Não quero dizer que uma pessoa desprovida materialmente não possa ter o prazer de criar seus filhos. Entretanto, a quantidade parece ser inimiga natural da qualidade em um caso como esse. Sou a favor de uma campanha nacional de conscientização que mostre a essas pessoas que o pouco com Deus é muito. Quanto menos filhos, maior a possibilidade de carinho, atenção e provisão dos parcos recursos materiais, tanto familiares quanto governamentais. Camisinhas e anticoncepcionais abundantes nos postos de saúde, laqueadura e vasectomia pelo SUS, aconselhamento médico são boas medidas. E já que nosso atual governo é craque no marketing, que vincule essa campanha nacionalmente no rádio, TV, ruas, comunidades e onde se faça necessário. Enquanto isso não for feito, seremos todos vítimas de nossas ações, ou ausência delas. E mesmo que tudo isso seja feito, tenho a ligeira impressão de que o Papa vai se declarar contra.