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terça-feira, 28 de julho de 2009

Mimetismo e Feijoada

Mimetismo nada mais é do que confundir imitando a um outro. Na natureza, a estratégia é se fazer passar pelo que não se é para poder sobreviver. Vale tudo. Imita-se a coloração, a textura, o formato do corpo, o comportamento. No final, a espécie mimética safa-se de predadores, atrai presas, espalha seu pólen... Enfim, vai vivendo segundo suas conveniências. Note-se que mimetismo não é camuflagem. Ao se camuflar, o organismo usa suas próprias características para mesclar-se ao meio que o rodeia. É o caso dos insetos que parecem um galhinho de árvore ou das mariposas cuja cor as confunde com a casca de uma árvore.

Não sei quando o ser humano brasileiro decidiu lançar mão do mimetismo. Talvez seja uma estratégia de sobrevivência psicológica à falta de amor-próprio. Talvez, simplesmente, mais uma macaquice em vigor em nossa república de bananas. Seja como for, não vejo vantagem em sermos aquilo que não somos – e pior, optarmos por mimetizar comportamentos e características que não condizem com o que somos e nem nos farão bem algum. O preço que pagamos por mimetizar sem necessidade é nossa cultura, nossa história (seja ela qual for) e nosso potencial para criar soluções que nos sirvam – como um terno sob medida veste bem a quem o encomendou.

Devido à proximidade continental, o alvo preferido de nossa mimética neurose se encontra prensado entre o México e o Canadá. É de lá que provêm hábitos de hambúrgueres e outras variações gordurosas de fast food (e decorrente obesidade mórbida ou anorexia/bulimia holiwoodiana), shopping centers (no original, não aceite traduções), loiras (em nosso caso, na maioria, tingidas), afro-descendentes e outros politicamente corretos (com devidos cacoetes associados), black music (embora mais black seria o samba e uma boa capoeira), subúrbios (na versão tupinicóide, são ‘condomínios de luxo cercados por muros de três metros de altura e câmeras de vigilância por todos os lados’), Papai Noel (um homem gordo vestido daquele jeito em pleno verão tropical!) e Halloween (idem, na versão infantil).

A lista se prolongaria indefinidamente. Curioso, porém, é que não mimetizamos o melhor do jeito norte-americano de ser. Não copiamos, por exemplo, seu sistema judiciário, sua força policial efetiva e bem-treinada, seu patriotismo, seu sistema educacional, seu sistema previdenciário, seu Estado enxuto. Voto não-obrigatório. E aí é que está o problema do ser humano se tornar mimético. O que não presta é fácil copiar, não passa de superfície, vaidade, qualquer maquiagem malfeita resolve. Difícil mesmo é copiar as entranhas, a genética, intrinsecamente. E isso os seres miméticos da natureza não podem fazer. Nem o querem. O mimetismo para eles é apenas uma forma de sobrevivência. Em nosso humano e brasileiríssimo caso, é falta de autoestima.