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sexta-feira, 27 de novembro de 2009

País de Palhaços e Vexames

A política internacional do atual governo deixa a nós brasileiros com uma nada sublime sensação de vexação. Enquanto nosso presidente, agora usando figurino à la Evo Morales, desfila seu palanque eleitoral mundo afora, nós brasileiros passamos carão como povo atrasado, inerte e sem opinião. Apesar da auto-idolatria da cúpula governante dizer o contrário, nunca antes fomos mais medíocres enquanto nação do que agora. Para entrar para o rol mundial de nações desenvolvidas, não basta emprestar dinheiro para o FMI e ter uma Petrobrás. Nossa mentalidade tem que evoluir.

Em sendo possível evoluir sob governantes que não evoluem eles próprios – o próprio presidente tem orgulho de mal e porcamente ter um mínimo de estudo – seria necessário que o governo parasse de se engajar nas lutas de governantes de idoneidade suspeita como Manuel Zelaya e similares. Mas, não! Com tantas questões importantes a serem resolvidas dentro e fora do Brasil, nada apaziguará o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, que não seja o retorno triunfal desse que usou nossa embaixada em Honduras para seus próprios fins.

Não bastasse o governo se imiscuir – e a todos nós enquanto nação – em assuntos que não nos dizem respeito, também agora temos que dar guarida a terroristas de outros países – como se já não houvesse bandidos suficientes aqui. Chega a ser hilário políticos como o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) transformarem Cesare Basttisti de terrorista em ‘ativista’ e o fim de sua greve de fome em um “gesto de confiança” para com Lula, que vai bater afinal o martelo sobre seu destino. Palavra alguma, note-se bem, está sendo dita pelo senador acerca das provas contundentes fornecidas pelo governo italiano e que pesam contra a dignidade política desse indivíduo.

E mesmo que o assunto esteja longe de se esgotar nesses parcos exemplos – não haveria espaço suficiente aqui para esmiuçar o montante efetivo do nosso papelão diplomático – vou encerrar com o caso de Paula de Oliveira, que tentou passar a perna no governo suíço. Não fosse o apoio do Itamaraty, tudo não teria passado de mais uma espertinha brasileira que se deu mal por confundir outros países com o Brasil. Mas o governo brasileiro tinha que intervir e nós, povo, tivemos que ouvir de um ultrarradical do Partido do Povo da Suíça (SVP) que “a Suíça não é uma república de bananas”. É, vergonha pouca é bobagem.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Vide Bula

Quem nunca comprou um medicamento na farmácia e leu na caixinha ‘Informações ao paciente, indicações, contra-indicações e precauções: vide bula’? Agora, se alguém jamais se deu ao trabalho de ler a caixinha, com certeza ao abri-la deparou com um papelzinho dobrado, normalmente três vezes no comprimento, ciumentamente impedindo que se pegue o conteúdo interno sem antes passar por ele – é a forma de forçar as pessoas a verem que, sim, há uma bula e ela deve ser lida. A lei, incentivando ainda mais os brasileiros a se informarem sobre o que ingerem, passam ou aplicam, exige que a informação ali seja a mais compreensível possível a leigos. Você lê a bula?

Sempre gostei desse pequeno informativo, não apenas por sua óbvia utilidade ao nos esclarecer, mas também pelo som de sua alcunha: Vide Bula. Tão simpática sonoridade já virou nome de banda de música, roupa de grife, ótica e sabe mais do quê. E deste artigo, claro, entretanto minha escolha pela expressão não proveio desta sua musical característica e nem da intenção de discorrer sobre fármacos. Inspirou-me o que foi escrito no Estadão por Carlos Guilherme Mota, historiador e professor de história da USP e do Mackenzie. O Sr. Mota, assim como eu agora, não se interessou pela questão da química curativa. Ele abordou nossa manquitolante Constituição.

Frei Caneca, em 1823, disse que “Constituição é a ata do pacto social”. Já para mim, ela é a bula social e que – tal qual sua xará farmacêutica – deveria conter definições e instruções simples, claras e diretas e estar persistentemente presente em nossas vidas de forma a que não se pudesse chegar a nada sem passar por ela. Tomar medicamentos sem ler a bula é confiar cegamente no médico – só que ao ler a bula saberemos sobre os efeitos colaterais, já que o médico não tem bola de cristal e não tem como saber se padeceremos deles. Viver em um país sem saber de sua Constituição é confiar cegamente nos políticos, sem questionar os efeitos colaterais de suas decisões.

Só que a bula do nosso país precisa antes passar por uma reforma, protelada e nem sequer mencionada na nova enxurrada de propagandas eleitoreiras que mais uma vez vêm satirizar nossa inteligência (ou ausência dela). O problema com nossa Constituição é que ela, em 1988, foi um avanço e hoje – mesmo remendada do jeito que está – não é suficiente. Pelo contrário. Acontece que a base governista não deseja essa reforma, quer apenas ‘uma revisão'. Infelizmente para nós, pois caminhamos para um caos social - uma alergia ao medicamento, digamos assim. E, ainda pior, nem saberemos o que fazer, pois - desatualizada ou não - não lemos a bula.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A Leila do Pasquim

‘O Pasquim’, para os que não eram nascidos ou são novos demais para se lembrarem, foi um jornal publicado de 1969 a 1991. Ironicamente, aquilo contra o que lutou – a censura imposta pelo AI5 – foi também o que o alimentou, pois não durou muito após o fim da ditadura militar no Brasil. Nele trabalharam nomes de peso como Millôr Fernandes, Paulo Francis, Jaguar, Ziraldo, Henfil, entre outros, vivos ou mortos. Irônico, escrachava costumes com refinada inteligência. Dentre todas as edições ‘subversivas’, foi a que tinha Leila Diniz na capa que fez com que toda a equipe editorial sofresse um ‘surto de gripe’, da qual só se recuperaram três meses depois (na realidade, estiveram presos).

Leila Diniz foi uma atriz que quebrou tabus, escandalizou ao exibir sua gravidez em um biquíni na praia e chocou o país inteiro ao proferir a frase: Transo de manhã, de tarde e de noite. À frente de seu tempo, era ousada e detestava convenções. Foi invejada e criticada pela sociedade machista das décadas de 60 e 70. Era malvista pela direita opressora, difamada pela esquerda ultra-radical e tida como vulgar pelas mulheres da época. Além de ser jovem e bonita, era mulher de atitude. Trabalhou na Rede Globo, que não renovou seu contrato e sobre o fato a novelista Janete Clair comentou que não haveria papel de prostituta na próxima novela. Leila morreu em um desastre de avião em 1972.

Quem chegou até aqui pode estar pensando: “É, as coisas eram assim naquela época”. Ledo engano. Estamos em 2009 e resquícios dessas ignorâncias retrógradas, digamos que justificáveis na época, persistem quando não mais há desculpa. Afinal, imagina-se que a sociedade evolua de alguma maneira, que tabus sejam quebrados e que as pessoas aprendam com os erros. Infelizmente – e apesar das aparências – não é bem assim. O teor erótico de nossos programas de televisão e uma aparente liberdade de imprensa camuflam que “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais” – como diria Belchior.

Dois rápidos exemplos, entre outros. A pedido de Fernando Sarney, filho de José Sarney, o desembargador Dácio Vieira proibiu o jornal ‘O Estado de S. Paulo’ e o portal Estadão de publicarem reportagens que contenham informações da Operação Faktor, que investiga a suspeita de que ele teria feito caixa dois na campanha de Roseana Sarney na disputa pelo governo do Maranhão. Por outro lado, uma aluna da faculdade UNIBAN teve que sair escoltada pela polícia por que seus colegas de classe se revoltaram por ela estar de mini-saia e só não foi expulsa da faculdade pela pressão da imprensa. Incrível como ‘O Pasquim’ e a Leila continuam atuais, não é mesmo?

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

ONGs, CPIs e Outras Pizzas

Confesso que às vezes fico indecisa. Semana passada, por exemplo. Ao ler que o Lula afirmou, diante de uma plateia formada por ilustrados catadores de lixo, que o brasileiro “não precisa de formadores de opinião” (i.e., intermediários se intrometendo na harmoniosa relação governo-povo), não consegui decidir se devia morder com raiva o canto da mesa, chorar amargas lágrimas de desilusão ou – a exemplo do que ocorre em Brasília e outras localidades do Poder Público – convidar uns amigos para comermos pizza e juntos darmos boas gargalhadas dos trouxas e simplórios que ajudam, com seu voto (obrigatório) e falta de informação, a glorificar a corrupção. Excesso de opções, eis o meu dilema.

Lula sempre demonstra má vontade para com quem tenta alertar a população sobre a realidade da atual administração federal. Com prosa intencionalmente populesca, o Sr. Lula da Silva transforma o mais alto cargo executivo deste país em um palanque de campanha onde escabrosos escândalos, seus e de seus aliados, são neutralizados. Quem ouve (mas não verifica) o que diz o digníssimo presidente, pensa que ele e sua trupe são a perfeição personificada. Afinal, em sua mais recente e hipnótica sabatina populista, ele disse: “fizemos mais do que qualquer outro governo do Brasil”. Concordo: mais contratações supérfluas, inusitados ministérios, desvios de verba, escândalos e pizzas.

A administração Lula também é recordista em CPIs italianas (regadas com azeite, com ou sem borda recheada). Maçante seria listar aqui tudo o que o presidente não quer exposto ou relembrado pelos ‘formadores de opinião’, então aos interessados é mais fácil acessar: http://veja.abril.com.br/idade/exclusivo/corrupcao_cronologia. Mas posso desde já fornecer um tira-gosto: Correios, Mensalão, Lulinha e Telemar, etc., além de três impeachments presidenciais devidamente arquivados e outras jóias praticamente esquecidas – ou nem ao menos absorvidas – pela grande massa brasileira.

E agora, como emoções não faltam na República de Bananas na qual se transformou nosso inglório país tupiniquim, temos a CPI das ONGs e – interessantíssimo – eis que ninguém menos do que o MST aparece como beneficiário de mais de 50 milhões de reais dos cofres públicos, portentosa verba aprovada após militantes do movimento terem ido trabalhar para deputados petistas em Brasília. Fernando Rodrigues, na página ‘Poder e Política’ do site da UOL, já matou a charada: “O governo vai controlar a CPI do MST como vem controlando as outras, a CPI da Petrobrás, por exemplo”. É isso aí. O Lula não gosta de opiniões formadas – ele prefere as manipuladas.