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sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A Boneca Russa Brasileira

A atual crise diplomática entre Brasil e Honduras fez minha mente retornar a uma ocasião em que tive a oportunidade de adquirir uma boneca russa há alguns anos atrás. Quem a vendia era uma senhora refugiada daquele país – que na época ainda era o centro da extinta União Soviética. Não sou consumista, mas até hoje não sei o que me levou a não adquirir uma das peças. O preço era bem módico e o conceito interessantíssimo. Fato é que não o fiz e agora lastimo profundamente. Adoraria tê-la na minha frente enquanto escrevo isso.

Uma boneca russa nada mais é do que uma colorida peça de madeira oca semelhante a um pino de boliche, só que é mais baixinha e gordinha. O desenho imita o rosto alegre e a roupa rústica de uma mulher do povo. Essa simpática figura se encontra dividida em duas metades, mas o encaixe é perfeito, então o fato só é notado quando se puxa para cima aquela que seria a cabeça, separando-a do gorducho quadril. E, surpresa! Dentro da boneca existe uma outra idêntica e, dentro desta, uma outra. E uma outra. E outra. Até que deparamos com a mini-bonequinha maciça que habitava como um feto a barriga de todas as suas irmãs gêmeas.

Lembro-me com especial remorso da boneca russa que não comprei por ter sido esta diferente. Por fora, uma boneca russa comum, colorida, rostinho rosado e feliz. Porém, ao abrir a primeira da sequência, você se deparava com ninguém menos do que Gorbatchov (o da abertura política russa), dentro deste estava Brejnev (o ‘anti-Stálin’ de fachada), seguido por Stálin (o do terror descarado), dentro do qual se aninhava Lênin (o da revolução) e, fechando a sequência, a embrionária figurinha de Karl Marx (aquele que confundiu seres humanos com formigas, quando então concebeu a doutrina comunista).

Fosse eu uma artesã, conceberia uma boneca russa brasileira, inspirada em nossa atual política diplomática. Por fora, um pino de boliche (mais baixinho e gordinho) pintado na forma de uma passista de escola de samba, dentro da qual haveria um Hugo Chávez de bochechas rosadas, aninhado neste um Manuel Zelaya, dentro do qual se esconderia um rechonchudo Cesare Battisti, que estaria escondendo em suas entranhas de madeira uma jovem Dilma Rousseff e, por fim, no âmago de toda essa questão, um Karl Marx brasileiro, mais sorridente e com a barba um pouco mais rente do que o original russo.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Algemas e Cabrestos, Angras e Reis

Perdoem-me os cegamente otimistas, os fãs de carteirinha, as torcidas organizadas, os pueris e as Marias que vão com as outras. Não acho que o Brasil é um país em desenvolvimento. Não vejo um futuro brilhante para nós, da mesma forma que não acredito em Papai Noel. Depois da tempestade não virá a bonança, pois nós, apenas e placidamente, aguardamos no enganador olho da tempestade – a calmaria nos faz sentar tranquilos quando deveríamos sair correndo enquanto é tempo. E aqueles que gostariam de me apedrejar por tais palavras devem aguardar que termine eu de me expressar.

Comecemos pelas bases, por nossas escolas públicas. Estão sindicalizadas ao ponto de não ser possível afastar um incompetente do cargo de professor. Se essa mínima e premente alteração não se faz possível, quem dirá o resto. Um cidadão mal-formado não tem plena ciência da situação a sua volta e um dia tomará decisões coerentes com suas (parcas) potencialidades – inclusive através do voto obrigatório (atual democracia brasileira). O cidadão é a base da sociedade que, por seu turno, é a base do país. Um cidadão mal-preparado é inerte, não sabe o que faz, o que pensa, o que quer. O que nos leva ao que vem a seguir.

Para haver mudanças, é necessário que os detentores do poder (representantes do povo) tenham honestidade (para com os bens públicos), visão (para com as necessidades públicas) e boa vontade (para trabalhar em prol do público, o qual representam). Entretanto, tais governantes foram, em sua maioria, eleitos por pessoas que mal sabem o que fazem e o que acontece – e tais governantes sabem disso, navegando em cargos públicos segundo suas próprias conveniências e impunemente ditando regras para suas próprias condutas e direitos. Para eles, o povo não passa de gado: que seja controlável, dê lucro e o mínimo de trabalho possível. Sugando o dinheiro público e não trabalhando como deveriam, nos lançam ao parágrafo escrito anteriormente e assim recomeça o ciclo.

Os resultados estão aí e quem não é cego que veja. Os impostos excessivos e mal-direcionados, as indecentes regalias políticas, o mau uso dos recursos humanos e físicos, as incoerências administrativas e a impunidade generalizada há muito teriam explodido na forma de violenta revolta popular em outros países – os desenvolvidos, conquanto desenvolvimento não significa necessariamente dinheiro, mas postura e autoconsciência. Mas eis que estamos agindo como se a coisa toda fosse (e estivesse sendo) bem feita. E assim agiremos ad infinitum (do latim, literalmente ‘até o infinito’, mas prefiro a versão ‘para todo sempre’). A boiada bem-comportada, já antes detentora de uma usina nuclear, é agora a feliz possuidora do pré-sal. Acredite se quiser.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Ética, Ora Ética!

No dicionário, Ética é a filosofia que estuda valores morais e princípios ideais da conduta humana. Ética, enquanto conceito, é de difícil compreensão, hermética, só ensinada e aprendida em Universidades. Entretanto, podemos aplicá-la no dia a dia, exigindo-a de nós mesmos, das pessoas à volta e – por consequência – de governantes e outros detentores de poder. Catedrática ou não, a Ética se resume em não se fazer certas coisas, não interessando a situação, opinião ou oportunidade que você por ventura tenha. Democrática, pode ser aplicada por criminosos, usurpadores, donas-de-casa, donos-de-comércio, publicitários, políticos (em ascensão ou não). Não é necessário um diploma ou grau universitário para se ter Ética.

Eticamente falando, o problema não é o Lobo Mau desejar comer a Chapeuzinho Vermelho, mas colocar as roupas da Vovozinha para conseguir seu intento. Inimigos, desafetos e opiniões diferentes todos temos, mas usar de deslealdade (trapaça) e subterfúgios legais (trapaça legalizada) é falta de Ética. O conceito de Ética se alça acima do bem e do mal, acima do certo e do errado, pois a Ética não toma partido de nada e de ninguém, diferentemente do que acham os fanáticos e os usuais donos-da-verdade. A Ética é a nobreza da alma, é a consciência que extrapola a si mesma. É ter – acima do que se acredita, do que se tem por certo ou do que se acha certo – respeito pelo outro, mesmo sendo ele um adversário.

Ética é não difamar inimigos, apesar de tê-los. Não é ético atacar pelas costas, forjar situações, contar mentiras. Não é ético dizer que quem fez foi o outro quando, na realidade, quem fez fomos nós. Amenizar nossas falhas e enaltecer a falha alheia não é ético. Não ter ética é tomar atitudes na berlinda se houver impunidade. É tramar. É saber que o alvo do desafeto pouca ou nenhuma chance terá para se defender. Falta de ética é covardia. É esconder-se nas falhas da lei. É desculpar-se publicamente mas, ainda assim, persistir nos lucros que a infame ação tenha trazido. Enfim, não ter ética é despencar do degrau da humanidade cônscia e derribar-se na mais infame animalidade egocêntrica.

A Ética está acima da lei, pois naturalmente a suplanta. Existem falhas na lei – qualquer lei – mas nunca recairá em erro quem é ético. Ética é dignidade, o que por vezes a lei não tem e, se a tem, por vezes não a concede. Nobres e bem-intencionados ideais tiveram que dar passagem à Ética e, se não o fizeram, viram seus nobres e bem-intencionados propósitos (acaso presentes) caírem por terra (ou no quinto dos infernos, consulte Dante). É ético o cidadão comum ser obrigado a pagar impostos que financiem algo em que não acredita (MST e outras parcialidades em Brasília, por exemplo)? É ético forjar documentos? Difamar? É ético enaltecer as qualidades do seu peixe tendo antes envenenado o lago do seu vizinho?

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Semeando o Vento

Questão de uma semana atrás, tive – obrigada Deus pelos pequenos favores – uma agradável surpresa. Estava trabalhando em uma tradução quando, de repente, acabou a luz. Ao ligar para a CPFL, fui prontamente atendida por uma voz eletrônica que confirmou meu endereço (não sei como, mas assim foi), informando-me que não só estavam cientes do inconveniente como também o lamentavam, e que o serviço seria reativado assim que possível. Todo o processo não durou mais de 30 segundos. A energia também não demorou a voltar. Impressionante, não? Também achei.

Isso comprova que, quando existe boa vontade nesse país, não há como as coisas não funcionarem. E bem. Somos talentosos em tudo o que nos propomos a fazer e, se incentivados, extrapolamos expectativas, não raro deixando enfática e boa impressão em outros povos. Bom exemplo está em nossos atletas, quando têm condições de arcarem, eles mesmos, com seus treinamentos. Outra jóia está em nosso cinema, nos diretores Walter Salles, Fernando Meirelles, José Padilha e no maravilhoso elenco de Tropa de Elite – aclamadíssimo mundo afora. O BOPE é igualmente alvo de elogios, enquanto polícia especializada.

Nossos cientistas também não ficam atrás, demonstrando sagacidade temperada com engenhosidade, fazendo com que os poucos projetos que conseguem verbas no Brasil deixem muitos na comunidade científica internacional de queixo caído. Digna também de nota é a criatividade dos pequenos, médios e grandes empresários brasileiros que sobrevivem, apesar das chuvas de impostos a que estão expostos e de serem frequentemente chamuscados pela melindrosa política vigente em nosso ambiente trabalhista. O povo brasileiro é tudo de bom.

Infelizmente, o exposto acima não perfaz nem 1% do nosso potencial. E, tudo leva a crer, não passaremos disso, pois os 99% restantes não são semeados. O país ainda vira as costas aos futuros atletas (a não ser que joguem futebol ou já sejam famosos) e as escolas públicas estão um lixo - aqui não se pratica mens sana in corpore sano. O cinema encontra-se na mão da Globo Filmes (e, futuramente – não vai demorar – da Record Filmes), cujos protagonistas serão, algum dia, todos ex-BBB ou ex-Fazenda. Campos de pesquisa científica serão invadidos, de novo, pelo contingente cada vez maior do MST. E a Petrobrás não passará de um cabide de emprego e verbas para ex-sindicalistas, os novos ricos brasileiros. Já imaginou o tamanho da tempestade?